terça-feira, 31 de maio de 2011

Redes



Como toda boa filha de nordestinos, sou chegada a uma rede. Balanço, aconchego, meu pai e meu avô que gostavam de redes.  E foi em Carneiros, vulgo paraíso, em casa cheia de redes de frente pro marzão sem fim, que Juliana e André me convenceram a entrar pra essa nova rede - o feicebuque. Então. Eu já tive orkut, mas comecei a achar meio manezice esse negócio de ficar ali, aparecendo, pra... que mesmo? Depois de brincar um tempo de achar gente perdida  - adoro brincar disso -, apaguei minha página, sem dó. Ufa. 
O feicebuque... eu resistia. Parecia orkut. Cacá, Ju, Priscila tentavam me convencer que não era. "Não é como?" "Ah, você tem que ter pra entender". Caxanga real. E eu resistindo. Algumas notícias, alguns programas começaram a brotar, as pessoas "simplesmente sabiam". "Tava no feicebuque"... cacete. Ok, vocês venceram. Batata frita. E isso foi em Carneiros, na casa de janelas azuis, à beira daquele mar de meu Deus. Foi em Carneiros que eu disse "tá, então quando a gente voltar pro Rio eu entro no feicebuque". 
E, como sou mulher de palavra, entrei. 
Mal sabia eu.
Vício sem volta. Sem dúvida. Tem gente até que precisa cometer feicebuquicídio pra poder conseguir se concentrar em suas atividades diárias. Eu, desde que o meu notebuque quebrou (há umas duas semanas), fico brincando de exercitar a falta. Só quando dá, só quando os meninos já foram prá escola e eu ainda não fui pro trabalho. Pra ver qual é a extensão do vício e do "cold turkey".Por enquanto, tá dando.
Mas o que eu queria comentar é que eles todos tavam certos: é outra coisa. Bem outra coisa. Tento explicar pra André que é feicebuqueless convicto e desdenhoso: é uma praça. Um lugar onde você encontra a galera, todo dia. Um mural de recados, só que cheio de espaço e de possibilidades. 
E me achei na vida. Era isso. Tava me faltando. Que nem quando o google foi criado e eu virei instantaneamente uma buscadora hiperespecializada: era fácil, eu já pensava daquele jeito. Só faltava o mecanismo. O feice é isso também: eu já era daquele jeito, e importunava amigos por emeio -  que era sempre fonte de grandes reflexões: tudo o que eu mandava era pensado e repensado no quesito destinatários, e nunca tive lista automática nem mandei "pra todos". Mas me sentia meio que perturbando. Então, que maravilhoso... ali você só posta. Joga garrafas ao mar. E quem se sentir estimulado, intrigado, irritado, vai lá e comenta. E daí, como notou o Cardim (que entrou no fb porque achou que eu o tinha convidado "de verdade", mas virou um pop de feice instantâneo, com seguidores e fãs), todo assunto pode virar outro assunto. Como um fio que você puxa e vai desenredando enredos novos e inesperados. E, no processo, conhecendo novas pessoas, se aproximando de outras que já conhecia. Do virtual para o real. Com infinitas possibilidades. Direto da rede. Vou pra Carneiros, assim que der. Com wireless, se Deus quiser. 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Freires

Então....isso aqui é só um comentário engraçado sobre os Freire/Freyre de Pernambuco. Porque eu sou uma pessoa que loucamente organiza o mundo em grupos variados (aprendi a usar diagramas de Venn - googleiem aí - muito jovem, e desde então...). 
A maioria fica nas internas. Tipo: "metade da mesa tá de roupa em tons de vermelho". Ou "esse lado aqui tem muito mais gente de óculos". Ou ainda: "todos os caras tão de calça social e camisa pólo" (mas isso, com a graça dos deuses, é na mesa ao lado.). 
E esse particular grupo aqui eu sempre tive vontade de compartilhar. Só não tinha aonde. Pois apesar de não parecer, eu não posto tudo o que me passa pela cabeça no facebook. E isso aqui não me pareceu apropriado práli. Mas pra cá rola.
Pois... minha família é de Pernambuco (e da Paraíba pela via da avó paterna). E Freires (i,y) em Pernambuco, os há.

  • Gilberto Freyre, claro - o avô dos meus primos queridos Tonito e Cecília. O pai de tia Sônia. E por conta disso li "Casa Grande e Senzala" em francês, com doze anos. Efeitos ainda se fazem sentir.
  • Paulo Freire - professor da minha mãe na Escola de Serviço Social de Recife, reencontrado em Genebra, quando era casado com a querida Elza. Pai de (entre outros) Cristina (companheira de férias gregas) e de Joaquim - meu primeiro professor de violão (coitado, sofreu um tanto. Mas guardo doce lembrança dele).
  • Roberto Freire - pois é. Mais distante. Amigo dos meus pais de juventude. E mais não digo sobre. Já compartilhei, século passado, mesa de restaurante com ele e com sua filha que voltava de curso de balé na União Soviética. Se não me engano. Mas acho que não.
  • Marcos Freire - pra quem meu pai trabalhou, com dedicação e alegria, no Ministério da Reforma Agrária. Meu pai que quase tava naquele fatídico avião, junto com ele, com Ivan Ribeiro e com tantos outros. E a gente (Marcelo e eu) ficou sem saber se ele tava ou não por quase quarenta minutos. Os piores quarenta minutos da minha vida. Pai de Marusa, nossa companheira no SPA Espaço Natural. Grande figura.
Era isso. Os Freire de Recife. E sua ligação com minha pequena e extremamente autocentrada  pessoa. Achei engraçado, e como agora eu tenho um espaço só meu, posso compartilhar sem problemas. Lê quem quer. Valeu, Cacá! 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Mano Victor

Pra mim era e sempre foi Maninho: mas você escolheu esse nome. Então fica o seu.
E isso aqui é uma carta: você vai achar engraçado receber uma carta minha de onde você tá agora; mas eu escrevo. Já escrevi pra papai, pro Jayme, pra vovô (acho que a de vovô Lins foi a primeira). Um jeito de manter vocês com a gente: um jeito de acalmar a saudade. E você, que deve tar ocupado com o tudo de novo que tem que aprender por aí, receba quando der. Quando puder. Fica aqui, pra quem ficou e tem saudade. E é tanta gente.
Porque esse era, eu acho, seu maior talento: agregar gente. Gente alegre, músicos, poetas, pintores, todo mundo entrando e saindo da sua casa sem chave na porta. Todo mundo querendo tar, querendo participar, querendo conversar. E tinha lugar pra todo mundo, incrivelmente.
Até pra mim, adolescente em carne viva que eu era naquela época. Até pra mim, olha que maravilhoso.
Lembro de quando teve aquela cheia, e a gente tava na sua casa - Adrianne, eu... Marcelo tava? Adriana, certamente. Fora a família: você, Virgínia, Dinho, Paulinho, Henrique. E os outros. A gente ficou ali, presos e nem aí pra cheia. Ouvindo música (acho que a trilha daqueles dias era Chico, "Tanto amar", "Mar e Lua"), bebendo um pouco, conversando, conversando, conversando, conversando... conversando mais, sendo apresentados a novas músicas, novas imagens, novas idéias. Viajando nas histórias, na história. Tando juntos, se aquecendo naquela teia de gentes, de cores, de histórias.
O paraíso pra uma adolescente selvagem, cheia de sentimentos e com frio de gente no Rio de Janeiro (onde ainda não tinha feito seu ninho, onde tudo era diferente e estranho).
Você era médico, como seu pai, como seus irmãos. Mas acho que você era, sobretudo, um "medicine man". Um médico da alma. Um pajé, que sabe que corpo e alma são uma coisa só.
Depois, muito depois, quando a gente já tava afastados há tanto tempo, quando a doença de tristeza já tinha mostrado suas garras, eu soube que você tava pintando, e fiquei feliz. Era isso. O artista sempre foi você. Você fez um retrato de papai que tá na "casinha de nós" do Leme. E que alegra quando a gente lembra dele, de você, de vocês que devem tar a estas horas tomando umas biritas no boteco do céu, rindo, contando causos e relembrando aventuras passadas.
Enquanto isso, por aqui, a gente vai vivendo e vai sentindo falta de vocês. Falta, mas também presença. Na história, nas músicas, nos quadros. Na alegria de tar juntos que vocês tanto souberam ensinar prá gente.
Valeu, Mano. A gente se vê por aí.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um brinde ao Chopinho

Começou meio despretensiosamente, quase como uma brincadeira. A partir de uma conversa sobre as diferenças entre homens e mulheres na aula de astrologia. “Será que é verdade que a fidelidade ao chope é só masculina? Será que está vinculada ao pós-futebol? Será que é genético?” Essas profundas questões não encontravam resposta clara, por mais que quiséssemos rejeitar o estereótipo. De fato, não sabíamos. Será...? 
Marcamos um, no saudoso quintal do Balalaica. Depois outro, e mais um... e outro ainda... no começo, a freqüência variava bastante. Do grupo fundador, Pata, Juliana, Renata Figueiredo, Babeth, eu. E temporárias, algumas mais fixas, outras que apareciam de vez em quando. E o chopinho continuando, envolvendo mentes e barrigas. O grupo das “chopinhas” foi ficando mais constante. Uma engravidou, depois outra, mais outra ainda... chopinho fértil. Fértil de conversas, de assuntos, de trocas. Fértil do conhecimento de que havia sim, ali, algo diferente dos outros chopinhos. Os mistos. Os “com eles”.
 Às vezes, um deles comparecia. E ficava na quina, meio na berlinda. Meio ressabiado. No começo mais, quando eles ainda não tinham se acostumado. Estranhavam. Afinal, isso é coisa de homem... ou desacreditavam: é moda, não vai durar. E a gente lá. Primeiro, toda semana. Depois, mais espaçadamente. Algumas integrantes saíram, foram explorar chopinhos estrangeiros. Outras entraram depois e viraram permanentes, fundadoras, chopinhas na alma desde sempre.
Chopinho vai, chopinho vem, estamos agora a adentrar o sétimo ano de chopinho. Sete, número cabalístico[1]. Na astrologia (que, de certa forma, propiciou o começo disso), o número de Saturno, o sétimo planeta, cujo ciclo se divide em partes de sete anos. O começo da maturidade do chopinho. Quando já podemos dizer: vingou. Frutificou. Criou raiz. Os homens se acostumaram, e acho que de certa forma até acham bonito essas mulheres que, devagarzinho, sem entrar em polêmicas de frente, mostram que é possível sim, existir um chope de mulheres permanente. Mesmo que os fluxos femininos, regidos pela lua, senhora das marés e das TPM, façam com que ele ocorra quando flui, onde rola, e não num dia único, determinado, imutável, como é o chope masculino de depois do futebol.
Pra mim, integrante do chopinho, foi também um aprendizado. Sempre tive grandes amigas, mas nunca antes tinha participado de um grupo que se identificasse como grupo de mulheres. Por índole e por criação, tinha até certa implicância com as feministas. E, no entanto, não consigo deixar de perceber a natureza política que existe no chopinho. No mero fato de um grupo de mulheres existir há sete anos, encontrar-se regularmente pra beber, pra falar de qualquer coisa (até de criança!), pelo simples e raro prazer de se encontrar, beber e falar de qualquer coisa. Há qualquer coisa de revolucionário aí. Não sei por que, nem como. E essa constatação não é uma proposta de engajamento. O chopinho é isso aí, é fluido, é regenerador, acolhe a gente quando a gente precisa, com “pautas de chopinho” urgentes e por vezes dolorosas, deixando a gente em paz quando não tá conseguindo participar por um tempo. Mas a gente sabe que o chopinho tá aí e a gente volta pra ele. Que alimenta e regenera, que aconchega e reconforta. Que transborda. Generoso chopinho.
Um brinde à gente, um brinde a ele. Tim-tim!

Rio, 19 de junho de 2006


[1] “Um número especial por diversas razões, o numero sete libera emoções fortes e desinibidas que se manifestam de quatro maneiras: o instinto, a intuição, como desejo, e como amor sensual.” Em http://www.eon.com.br/unilae/unil497.htm

Feliz Aniversário!!!

Rê querida!
Aqui está o seu presente! Espero que você goste e que nos brinde com pensamentos freqüentes (continuo com trema...)...
Aproveito para deixar, já de véspera, muitos beijos, carinhos e desejos de felicidades sempre!!!!
Beijo grande,
Cacá