segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Idéias de economia política, molengamente

("molengamente" eu descobri aqui; ia botar adagio, mas gostei mais desse...)


O título dá idéia. Pra dizer que não tá nada exatamente organizado. Por isso eu demoro pra escrever sobre economia: porque fico achando que vou parar, consultar, linkar, estruturar e... não escrevo. Aí esse vai assim mesmo. Molengamente, sem pressa, mas com alguma elegância. Comme il faut.


[pausa prá maquiagem. 
Ok.]


Então. A inspiração foi do último dia do seminário da AKB , que começou lindamente com minicurso de Cardim e Kregel, e fechou - pra mim - com uma mesa de bem-jovens (quando o Summa é a segunda pessoa mais velha da sala, eu me sinto avó dos participantes, né... se bem que... em termos de maturidade, aí já não...) sobre política fiscal, amigos e simpatizantes. A mesa foi inspiradora mesmo, e animadora: se o povo da novíssima geração tá pensando essas coisas, já vale a pena pensar em conversar. Porque a gente se sente menos dinossauro. Adorei, mesmo. Que bom que eu fui.


Só fiz um comentário pequeno ao final, sobre uma fala da Viviane. Mas não era crítica a ela: era só algo que me ocorreu comentar, até porque eu já tava pensando em escrever sobre isso, até porque a minha não-tese versa sobre isso - ou melhor, tem esse pressuposto como pano de fundo e justificativa. Quem sabe, agora com o MBA em Gestão Pública e Inovação, ela sai. O MBA também tá sendo inspirador. Mas voltando...
O comentário usava dois textos como referência: o primeiro era o do Colander, "Was Keynes a Lernerian?" O gist desse texto é que, se o Keynes for levado às últimas conseqüências  (grafia antiga enquanto pode), se chega no Lerner e no déficit de pleno emprego das finanças funcionais; mas, diz Colander, Keynes não era Lerneriano. Digo eu: era burguês e assim se comportava, claramente e escancaradamente. Por isso não gostava dessa idéia e advogava o gasto público como forma de contrabalançar estragos excessivos do capitalismo. Mas não como ação de Estado permanente.


O segundo texto é aquele do Kalecki, "Aspectos políticos do pleno emprego" (link prá versão em inglês, mas tem em português), que, na minha opinião, todo economista que se diz de esquerda deveria ler. Como vários outros do Kalecki. Kalecki era polonês e isso se via na sua forma de analisar a economia. E esse texto, acho, é o nde se vê melhor isso. Claramente. Kalecki se pergunta se é do interesse da sociedade capitalista que se chegue ao pleno emprego, e responde pela negativa. Claro que não. Com pleno emprego, a balança de forças fica mais equilibrada: ou, do ponto de vista de quem manda hoje, mais desequilibrada, já que passa a pender mais para o lado dos frascos e comprimidos. Dos que não tem. Dos que, enfim. A gente sabe quem são. E eles também. 



O comentário que eu fiz lá na AKB era esse: juntando esses dois textos, eu (e outros, mas enfim) defendo veementemente que o Estado tem que se fazer sempre presente na economia - com um volume de gastos importante. Em termos macro, G/Y (G= gasto, Y= PIB ou renda agregada) tem que ser significativo. E, vejam vocês, não estou falando de déficit ou superávit público. Porque isso se dá a partir do G-T, sendo T= tributos líquidos de transferências. E como T=t(Y), ou seja, os tributos dependem da própria renda gerada - e isso é fácil de ver quando pensamos no imposto de renda - o resultado déficit -> G-T<0 ou superávit -> G-T>0 só vai ser sabido no final. No final de quê? Do período analisado. Que é arbitrário: o chamado "ano fiscal". Vai depender também da estrutura tributária. Dos tempos dos fluxos. De tanta coisa. Mas a participação do governo no PIB, em volume, se dá a partir dos gastos, que geram PIB - e emprego, e rendas derivadas a partir do multiplicador. 


Quando do 11/09, o governo americano não só gastou como mandou gastar: providência primeira.
A Europa agora está enredada num angu de caroço criado porque, com Banco Central independente e conservador paca, os países entram em crise e não conseguem sair dela. Sem contar que o "receituário da crise" só piora a própria, já que manda em primeiro lugar reduzir os gastos. (E notem que nem tô falando da taxa de juros. Nem vou. Isso é outra discussão, que agrava ainda mais).


Espero que tenha dado pra entender o ponto. Se não deu, esperneiem. Comentem. Critiquem. Porque eu acho isso. Acho muito. E cada vez mais.

2 comentários:

  1. querida Renata
    obrigada por falar um pouco do encontro da AKB. Não deu para eu ir pois estava com dermatite nos olhos. Mas gosto de saber o que houve. Se puder escreva mais sobre o encontro. Seus comentarios são procedentes e é bom ler suas opiniões. A festa dos TEA Parties se espalha pela Europa, com direitos a uma quase revolução de protestos. Falta lideres. Ontem a senhora de Bolle da Casa das garças escreveu um artigo no Globo sobre a musica da macroeconomia. Você leu? Achei hilário e gostava que comentasses. A mim só me ocorreu uma frase quando a vi recomendar ao Tombini que substituisse a vontade de sambar pela música "séria" de Vila-Lobos; madame não gosta que ninguem sambe!
    beijos
    Inês

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  2. Que bom que vc gostou, Inês. Fico orgulhosa. Vc era famosa na fac desde sempre. A portuguesa bonita q bateu boca com MCTavares. Devia ser disputa de lugar de portugas lá...rs. O artigo da Casa das Garças tá guardado. Mas ainda não consegui domar a preguiça e ler. Se vc comentar, posto aqui. Quer fazer não? Bjs!

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