terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Então é Natal




Natal. Em flashes.

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O Natal do primeiro ano na Europa: Chamrousse, muita neve. Sensação de estar "acima das nuvens". Tio Sylvio e tia Bel, Clarissa e Gui. Eu com a camisola nova e rosa que ganhei de mamãe. Uma árvore de Natal feita de fios dourados, na parede. Tudo novo. Tudo frio, nariz e bochechas gelados. Primeiras aulas de esqui. Gui e Clarissa: nossos guias. Um Natal quentinho de família, malgrado o frio lá fora. (obs: o "malgrado é homenagem a tio Sylvio, que usava a palavra. Poster no banheiro da casa dele: um vaso sanitário, com rosas dentro. E, na letra dele: "Mas como fede, malgrado as rosas!").

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Natal em Les Haudères: Natal de exilados e desgarrados. E os filhos: Claudia e Flávio; Zuza, Armando e Andréa. Daniel filho do Betinho (foi em Les Haudères que o conheci, levado por Marcos Arruda). Flávia e Joca que só participaram do Ano Novo, porque fizeram Natal-família em separado. Lysâneas fazendo fala ecumênica, num silêncio solidário e respeitoso. Jogos de mímica de filmes e livros: pela primeira vez. Adultos e crianças jogando juntos. Tem uns nomes que ali aprendi, sem conhecer o original: lembro de "Pai Patrão", de "O Salário do Medo". Esse o universo. E a gente fazia a mímica, pelas palavras. Dava certo e os times misturados (crianças e adultos) competiam de verdade. Cada vitória era comemorada como se não houvesse amanhã. Que talvez não houvesse.
Mais esqui. Esqui, sempre.



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O primeiro Natal da volta: na casa de Gilberto Freyre. Foi linda a intenção de tia Sônia, mas foi um Natal sofrido. Só eu e os irmãos, já que meus pais ainda tavam arrumando as caixas lá em Genebra. Me lembro de uma senhora perguntando "quem são esses?" e do frio que isso me deu no coração. Lembro da dor da saudade e do estranhamento completo, nesse Natal diferente de tudo. Natal de estrangeiro no Recife. Ainda era cedo demais.



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O Natal mais surreal de todos: o do ano em que John Lennon morreu. E sei que era esse o ano porque o "Então é Natal" com recitativo em português ocupava todas as trilhas sonoras. Invadia os ambientes mais reservados. E, no dia 24, meus pais ficaram no hospital. Meu avô tava lá e a gente já sabia que ele não ia sair. Vovô Lins, minha paixão. Eu brincava dizendo que tinha "complexo de pai de Édipo". Vovô Lins, taurino e briguento como eu: quando ele morreu, eu pensei "ninguém mais me entende nessa família". (desculpa, gente: mas eu pensei isso e até escrevi). Lembro do abraço apertado que papai me deu no hospital. Lembro de dizer a ele "só acaba quando acabou". Mas ele não tinha nenhuma esperança mais. A gente - eu e Marcelo, acho - passou a noite de Natal com amigos dos meus primos Paulinho e Elizabeth (primos Pimentel: não era o avô deles). Conversas surreais. Será que isso foi mesmo no dia 24? ou foi no 25, quando a gente já sabia que vovô tinha morrido?
Em todo caso, não consigo ouvir o John Lennon sem que a atmosfera daquele ano volte inteirinha. Intacta.

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Natal de 2004. O primeiro sem papai. Como é duro passar o Natal sem papai. Ainda mais o primeiro.
Mas continua. A ausência dele preenche saudades e abre vazios. Mesmo quando a gente nem fala disso.
Pai, um beijo.
E até amanhã.





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Natal-hoje/ontem. D. Helena - muita saudade. Seu Antônio: todo o carinho. Tia Sônia: no presente.
Os meninos tão crescendo lindos. Os cinco meninos e a única menina: netos dos meus pais. Felipe, João, Maria, Antônio, Chico, Joca. Na ordem. De dezoito a quatro anos. Lindos e amorosos. E é bom de ver a alegria que eles têm de estar juntos. De festejar juntos.
Viva. Viva. Viva.
Então é Natal, e alguma coisa certa a gente tá fazendo.

Amor a todos os envolvidos.


















sábado, 22 de dezembro de 2012

30 livros em um mês - Dia 21 — O melhor livro que você leu este ano




Esse, claro, é daqueles que não vou responder. Odeio ranking. Odeio "o melhor". Muito chapado; muito unidimensional. Tem tantas maneiras de ser melhor. Tantos livros que podem ser "o melhor" em alguma categoria. Faz pelo menos que nem escola de samba, pô! Bota quesito.

E porque falei de escola de samba, o livro de que vou falar - e que ainda tô lendo - é "Tantas Páginas Belas", do historiador Luiz Antônio Simas. Esse, pelo formato e pelo tema, tá na minha vida hoje como "livro de condução". Pequeno, formato de bolso. Tema e texto que descem redondos, gelados como uma boa cerveja em dia de calor (ainda não dá, tá cedo demais... mas já já...). Então é isso: o livro "mora" provisoriamente dentro da minha bolsa, e leio no ônibus, no metrô. Capítulos curtos, ajuda.

O livro trata da história da Portela - e eu tive o privilégio de fazer um minicurso com o Simas sobre a história do carnaval. Como disse André Diniz, que sabe do que tá falando: "ele entende tudo disso". E lendo o livro, cujo texto é tem uma simplicidade enganadora, dá até pra ouvir a voz do Simas falando de Oswaldo Cruz na década de 20 - "uma região extremamente pobre, sem água encanada, luz elétrica, calçamento" - , de Paulo da Portela (cujo apelido  é anterior à escola de que foi fundador), do delegado da Delegacia de Costumes que deu nome à agremiação por não aprovar o que existia ("Vai Como Pode"). 

Simas é um contador de histórias, um griot carioca da melhor qualidade - e da melhor cepa: descendente de nordestinos. ( :) ) Quando dá aula, usa o cavaquinho e a voz para pontuar com exemplos melódicos as histórias que conta: é um sarau, uma "aula-espetáculo" à moda de Ariano Suassuna. No livro, faltam o cavaquinho e a cerveja de depois: mas a gente sai mais feliz, mais sabida, mais encantada com o Rio e com seus rios de histórias.
Tantas páginas belas.





Fecho o livro a cada descida de metrô na Central, a cada ponto de ônibus em que tenho que saltar. Mas na minha cabeça, segue a trilha, na voz ensolarada de Paulinho da Viola: "se for falar da Portela, hoje eu não vou terminar".








segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

30 livros em um mês - dia 20 - O último livro que você leu




Segundo dia da retomada do meme dos livros. E agora é "o último livro que você leu".
Bom, eu agora estou lendo cinco livros (cinco de lazer, né, porque tem os "de trabalho(s)", que evidentemente não contam).  Então a pergunta se torna "o último livro que acabei".

Acabar um livro: uma dor. Que eu postergo ao máximo, quando gosto do livro. Foi assim com este. Confesso com certa vergonha: deixei três pagininhas por ler. Por meses. Olhava pra ele e pensava: "quase... mas ainda não". É uma maluquez, claro. Me deixa. Eu me apego.

O livro? Ah,  é. Nem disse ainda. O livro é "O nome da cousa", da Fal Azevedo. A Fal do Drops. Esse é especial: um livro customizado, um livro produzido único. Algo que começou a ser feito pela Marina W, com seu Caderno de Cinema (que eu tenho também, que amei e... precisa dizer? Inda faltam umas pagininhas...).
A Fal se inspirou e mandou ver, com preciosa ajuda da sua mãe, Maliu, nas ilustrações. Inda veio com marcador fofo, decorado e com frase do Mario Quintana - "Uma vida não basta ser apenas vivida: também precisa ser sonhada."

Tempo demais descrevendo as circunstâncias do livro? Não acho. Necessário dizer quão único ele é. Esse é meu. Foi feito pra mim e só pra mim, dialoga comigo, comenta... gente. Vocês nem sabem. Só de escrever isso meu coração esquenta. Tenho DOIS livros feitos só pra mim: o da Marina, o da Fal. Gente.



O livro da Fal é um caderno de anotações: lembranças, associações de idéias, pensamentos. Um diário ao qual a gente tem acesso. Um pouco como o blog, o Drops lincado lá em cima (quando falei no nome dela pela primeira vez, dá uma olhada). Tipo de livro que eu venero. Inda mais sendo da Fal, né. Porque aí é como se eu realizasse o sonho da minha irmã e "ouvisse" os pensamentos dela por um tempo. Em dois tempos: o do livro, o dos comentários. O livro é de 2006. Os comentários são de agora. Seis anos de diferença. Uma delícia de leitura. Como diz Rui Rezende - "publicitário, produtor e gato"-, que faz a orelha: "O Nome da Cousa causará espanto, caso seja esta sua primeira parada no Planeta Fal".
Causa espanto, causa encanto. Dá vontade de comprar um monte e distribuir pros amigos, à maneira de Marcos Lins - ele fez isso, por exemplo, com A Solidão do Cavaleiro no Horizonte . Dá vontade de que todo mundo que eu amo leia a Fal. Leia e se delicie. Leia e se enrede nos encantos dessa prosa tão enganadoramente fácil. Delícia de livro que é pra ler em voz alta. Que é pra contar pros filhos, quando eles já têm a idade certa pra entender. Ou talvez até na idade errada, sei lá.

Deixo um trechinho do Nome da Cousa, que é pra dar uma idéia:

"Vou pegar esse nada que sobrou de mim, esse corpinho de passeio alquebrado, e levá-lo pra comprar uma roupa nova, prum cinema e pro Masp. Que é pra Vida ver quem é que manda".

;)

Fal. The one and only.



domingo, 16 de dezembro de 2012

30 livros em um mês - dia 19 - O livro de não-ficção favorito




Eita. O Pádua não vai nem acreditar que eu retomei isso. Mas decidi: dos fios não-amarrados, escolhi amarrar um que dá. Esse aqui. Começo de limpeza na mente... final de ano, gente.

Confesso: parei meio por dúvida, meio por preguiça. Dúvida: tenho muita dificuldade de escolher "favoritos". Não gosto. Tantas possibilidades. Tantos quereres diversos e saborosos.
Mas mesmo assim: um de que goste muito. Tinha escolhido "Esta Noite, A Liberdade". De Dominique Lapierre e Larry Collins. Um relato romanceado do processo de independência da Índia - e, por tabela, do Paquistão. Que depois se desmembrou em dois: Paquistão e Bangladesh. Desde esse livro, sou "amiga" de Lord Mountbatten, o último vice-rei. De Gandhi, por suposto. De Jawaharlal Nehru, que viria a ser o pai da ministra Indira Gandhi. (e escrevi o primeiro nome dele sem olhar: fui checar depois, mas é isso mesmo. Memória visual continua em cima.).  Um livro que puxou muitos outros: livro cabeça-de-fila, como os do Monteiro Lobato sobre mitologia foram também. Credito meu caminho na astrologia ao combo "O Minotauro" + "Doze Trabalhos" versão Lobato. Ali começou. E dura.

Acabei escolhendo outro (não escrevi sobre isso esse tempo todo, mas quem disse que parei de pensar no assunto? muitas e intensas reflexões sobre qual seria o próximo. Se houvesse): "O corpo tem suas razões", de Thérèse Bertherat.

Imagem relacionada

Esse, como tantos, li porque minha mãe ganhou de aniversário. Li e me encantou de tantas maneiras.
Sou taurina, né. Touro = corpo. Touro está associado ao período na infância em que a criança toma consciência do seu corpo. Meu. Possessivo taurino. Minha mão, meu pé. Minha coluna.
Eu sou meu corpo. Que ocupa espaço. Que sua, que treme, que se arrepia. Que dança, que anda, que canta. Eu. Meu corpo.
É disso que o livro fala. História na primeira pessoa: T.Bertherat tinha acabado de perder o marido, "le docteur Bertherat". Estava perdida, deprimida, sem conseguir se cuidar nem cuidar dos filhos. E nisso encontrou, meio por acaso, uma sala onde se fazia algo que não era ginástica. É um relato de superação e de reencontro consigo mesma. Ela e seu corpo. Que tem suas razões, como o meu.
E dali, como Bertherat, encontrei novos caminhos. Meu corpo de adolescente era sofrido: tenso de golpes não-esperados, travado de medos nunca confessados. Meu corpo-trambolho. Meu corpo-armadura. Ninguém via isso: mas eu sabia, só eu sabia.
De repente,uma fresta. Uma passagem possível. Com muito esforço, muita ralação, é certo; mas disso nunca tive medo. Não vim a passeio, por mais que possa parecer diferente. É muito, é pesado, é intenso: eu. Meu corpo. Que, a partir do livro e da busca "na vida real", foi encontrando caminhos. Flexibilizando. Adquirindo precisão. Aulas e aulas. Nomes importantes no meu caminho de entender as razões do corpo: Angel Vianna, claro; Esther Weitzman, da Casa de Pedra; Neide Neves; e, por fim mas nunca por último, minha irmãzinha Adrianne Ogeda, parceira nesse início de busca, professora em outros momentos.

Hoje, faço pilates no Pulsar, com a querida Érika Reis. Novas procuras, explorações. Mas é outra coisa: já sei que meu corpo sou eu, já conheço caminhos, já destravei tantos nós. Dobro pra frente e encosto a palma da mão no chão: parece natural, mas lembro que aos doze anos mal chegava aos joelhos. Lembro da médica que disse que eu tinha uma escoliose irreversível e que teria que usar colete ortopédico por muito tempo. Inda bem que minha mãe foi ouvir outras opiniões.

O corpo tem suas razões. Meu corpo tem suas razões. Meu corpo sou eu, e pela seta que levava ao caminho menos percorrido agradeço a Thérèse Bertherat.











domingo, 2 de dezembro de 2012

A história começa há tempos




A história começa há tempos:
A menina  se doeu
E foi criando camadas
Botou tirou armaduras
Cercas, farpas
( um miolo
tão tenro tão frágil)

Mas, qual boa elefanta
- total recall
Tem tudo tudo guardado
Num Agora cada vez mais comprimido
 (pelo tempo acumulado)

Que aumenta o peso
De cada hora
De cada conversa
De cada olho no olho

- e isso não é por nada – só é.
Não é bom, nem ruim: é assim.

A leveza é uma máscara
(a armadura mais eficiente para o verão carioca)
Mas a menina
Por  trás da máscara
Espia
Com densos olhos
De criança.

Rio, 9 de maio de 2010.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

De Peito Aberto - Texto de Afrânio Garcia



De peito aberto; entre amigos do peito.

(adendo a J. Sérgio Leite Lopes) Afrânio Garcia



Como falar de encontros em que se arrisca a pele? De onde vem a certeza de se estar diante de alguém em quem se pode confiar, quando o inimigo decidiu aniquilar sem dó nem piedade qualquer obstáculo à imposição de sua vontade? Como exprimir dúvidas diante de situações em que se paga caro toda e qualquer hesitação sobre a atitude a tomar?



José Sérgio e eu conhecemos Marcos após a decretação do AI-5; mantivemo-nos em contato quando tudo “caía, homens, mulheres, crianças, barreiras à barbárie, nada escapando da indecência institucionalizada sob o apelido pomposo de “segurança nacional”... Em fins de 1969, muitos de nós já havíamos compreendido que “avançar” era impossível; mesmo deter a perversidade no tratamento de adversários parecia tarefa hercúlea; nem quero lembrar quantos dos mais “ideologicamente corretos” passaram a fingir que não estavam nem ai. Minha lembrança das conversas com Marcos pelas ruas é sempre positiva, por vezes aflorando até sorriso largo. Não consigo mobilizar rapidamente todas as lembranças do que empreendemos juntos, mas é seguro que duas tarefas cimentaram projeto comum: a solicitude de tudo fazer para salvar os perseguidos no dia-a- dia, a construção de instrumentos comuns para compreender o que estava se passando e facilitar a busca de novos horizontes para os combates da esquerda. Quando o “monstro da lagoa” (apud Chico e Milton) ameaçou de perto, até mesmo com a prisão de Marcos, nosso “aliado” encarnou o preceito “nada de correr da raia”. A imagem de “companheiro firme” fixou as bases de uma profunda amizade.



Não estava eu no Brasil quando a morte trágica de Tancredo Neves diminuiu as parcas chances de se implantar no pais o plano de reforma agrária mais competente, bem articulado e realista que ja se fez até hoje(o PNRA). Havia sido concebido junto das experiências dos movimentos camponeses, da resistência quotidiana aos interesses imobiliários que espreitam cada investimento publico para extorquir em beneficio de uns poucos a valorização do espaço onde vivem os desprovidos de quase tudo, os “ destituídos da terra” e de “ chão de casa”, exceto da esperança de que um dia “essa coisa toda muda”. Marcos Lins, Moacir Palmeira, Alfredo Wagner e tantos outros e outras deram o melhor de si para “avançar no que era possível”, tendo sempre a lucidez de ver que o campo dos adversários se rearticulara rapidamente e que a oportunidade de ocupar cargos de decisão estava com os dias contados. No inicio da “Nova República”, novos e velhos interesses agrários assumiram a alcunha de “ruralistas” para perpetuar o Estado como alavanca do “ agronegócio”; por pouco não eliminam as conquistas jurídicas do Estatuto da Terra...

Esse novo combate às claras só fez reforçar em Marcos Lins a percepção da relevância da reforma agrária para que entrem pela porta da frente da democracia os milhões de deserdados, “herdeiros” dos estigmas das posições subalternas, condenados a viverem sem vez nem voz; “quosque tandem”? Com Marcos Lins, não tenho nenhuma vitória definitiva para contar; apenas a vitória de se manter fiel às esperanças e aos combates por uma vida decente e pela liberdade de cada qual exprimir como gostaria de construir o bem coletivo. 

No Rio de Janeiro, em Paris, onde morava seu irmão, ou em Brasilia o tempo sempre foi curto para conversarmos tudo a que tínhamos direito. Ao caminhar, acertamos os passos e conferimos as bússolas. Que falta nos faz reduzir nossos reencontros aos momentos de introspecção. Especialmente agora, pois companheiro firme, calejado, de muitas andanças, seria o primeiro a arguir com ar bonachão:”como é cambada, vamos entregar o jogo no primeiro tempo? De mão beijada para os bandidos?”

Tivemos uma outra felicidade partilhada, a de avôs que contemplam as crias de suas crias como a vida que jorra e se afirma. Até festa de creche povoa de alegria minha memoria. Como esquecer que rindo desse reencontro em Laranjeiras, glosou o nome do estabelecimento:’Curiosa idade’. Nossas ou de nossas netas? Saudades, amigo. Até sempre, companheiro.









quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pequena história e o que dela pensei



Ia ser aniversário da menininha. Aniversário de três anos. Por isso, a mãe - isso não era comum - a levou numa loja de "brinquedos", entre aspas porque brinquedo, pra menininha, era boneca. Sinônimos. Bonecas era o que ela mais gostava de ter no mundo. Não brincava de casinha: apenas "tinha" as bonecas. Olhava pra elas, botava-as no colo. Ninava. Eram suas pequenas. Suas. Ela amava bonecas. E a mãe já sabia: por isso, quando disse "pode escolher o que quiser", sabia que ia ser uma boneca. A menininha olhou e olhou, e escolheu: um bebê. Um bebê lindo e gordinho, com mamadeira. Seu bebê. Era aquela que ela queria. Não a mais cara, não a mais chique: aquele bebê, pra acarinhar, pra transbordar de abraços e beijinhos sem ter fim. A mãe tinha um bebê, afinal: um bebê que também era "seu", e que fazia aniversário (de um ano) tão perto dela que a festa seria junta. Por muito tempo seria junta, e aquela seria a primeira. 

A mãe olhou e perguntou "é essa mesma que você quer, filha?" e a menininha tinha certeza, era aquela. O bebê negro. Seu bebê pretinho. Ela, branca, seria "mãe" da boneca negra.

Sem nenhuma dúvida. Sem nenhuma questão. O bebê pretinho era a boneca mais bonita da loja: pelo menos pra ela.



A menininha era eu - e, se não tenho recordação dessa história que minha mãe gosta de contar, me lembro muito bem da boneca, do meu bebê pretinho. Tem uma foto desse aniversário numa moldura na casa da minha mãe: meu pai, meu bebê-irmão, eu de cabelo curtinho, com a boneca no colo. Dando a mamadeira.


E por que foi essa a boneca escolhida, é claro que não tenho idéia. Eu preferi essa, provavelmente por que era diferente de todas, certamente porque era um bebê... e porque tinha. Porque estava à venda ali, naquela loja, essa boneca exatinho. Eu podia querê-la: ela estava lá. Tinha. 

Parece besteira, parece pequeno, parece... e no entanto. Tantas crianças não podem. Tá melhorando, parece - mas tantas queriam poder escolher a boneca pretinha. E não tem na loja. Só loiras, só de cabelo liso, só de olhos azuis. Parecidas com outras crianças: não com elas. Quem já brincou de boneca - e quem dera mais meninos tivessem brincado -  sabe como esse brincar é grave. Intenso. Teatro é vida. Brincadeira de criança é exercício. Prática de vida, de modelos. Como fazer se não tem boneca pra você? Se as lojas estão cheias de bebês de bochechas gordas e rosas, de cabelos cor de palha, de olhos azuis "da cor do céu" como os da Menina Maribel? Desde cedo, insidiosamente, começa: se não tem boneca pra você, deve ser porque seu cabelo é "ruim", seu olho, sua pele... seu nariz não é fino... mesmo que você seja a Camila Pitanga, a Taís Araujo, o Lázaro Ramos, o Paulinho da Viola. Modelos. Imagens. Identidade. 

Pequenas coisas. Gente pequena. E uma dor que, por não ser minha, eu nem posso conhecer de verdade. Só intuir.







Agradeço a Camila Pavanelli, Fal Azevedo e Luciana Nepomuceno por terem acolhido minhas questões quando da produção desse texto. As confusões que permanecem são minhas, só minhas. 

Esse texto faz parte da Blogagem Coletiva Mulher Negra 2012 . Para ver os outros textos da blogagem, vá lá!


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Renatas





Me liga uma Renata: "alô, é a Renata x?" "Não, é a Renata y" "Ai, Rê, desculpa" "Que é isso, Rê, tudo bem".
Ou seja: uma Renata ligando p outra, à procura de uma terceira.
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Trabalhei na SEFAZ RJ : equipe de umas vinte pessoas - três Renatas.
Na minha área, quatro pessoas: duas Renatas (eu e outra, claro).

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Trabalhei na SMTb RJ: recepcionista Renata, advogada Renata, eu. No hall do elevador ao mesmo tempo. Só Renatas.

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Sei, deve ter acontecido com vocês também; mas o caso é que eu cresci única, entendem? Sempre só fui eu em todas as minhas turmas - faculdade, colégio. No CSVP, por exemplo, no meu ano inteiro (cinco turmas, ou seja, umas 240 pessoas), só eu e mais uma.
Não era comum.
Estranhamento eterno.
Quando comecei a me dar conta da avalanche que se seguiu a mim, fiz pesquisa. E descobri: Beto Rockfeller, novela da Tupi, megasucesso (é, já houve vida além da Globo). Bete Mendes, a namorada do Beto Rockfeller, era Renata. 
Daí veio.

De lá pra cá, a moda nunca arrefeceu.
Mas eu ainda estranho.
E nem vou falar das Fernandas.













quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Pequeno comentário à toa sobre certezas e demanda efetiva




Vejo tantas vezes as pessoas enfatizarem o princípio da incerteza quando falam de Keynes.
O fato de que as decisões são tomadas "para um futuro incerto".
De que o tempo não volta. Nem para, já dizia o... vocês sabem.
Enfim.

O que Keynes a mim ensinou foi que a demanda (aka "demanda efetiva") não é, ao contrário do que pretendia  afirmar Marshall, o anverso da oferta. Não é similar-só-que-ao-contrário.
Não.
Numa sociedade capitalista - na nossa sociedade capitalista -, diz Keynes (e com ele Kalecki, e como sou formada na UFRJ não dá pra não mencionar, porque o Kalecki era polonês, não pertencia ao Grupo de Bloomsbury e falava meio grosso: mas diz o mesmo que Keynes de forma muito mais direta. Talvez por isso seja tão menos pop), produz-se para vender. Para vender obtendo lucro. Se isso é verdade, a oferta não é livre e independente: depende de ser sancionada pela venda, a preço considerado razoável pelos produtores.

Senão na próxima rodada eles produzirão menos; e, ao contrário, se há sinais de que a demanda está "aquecida" - filas, sobrepreços -, e de que isso não é fenômeno passageiro, na próxima rodada produzirão mais.

Pra vender, é bom lembrar: tem que ter infraestrutura. Porque de que adianta eu produzir um monte aqui, o pessoal do Acre estar louco pelo meu produto, e eu não conseguir fazê-lo chegar lá? Ou só a custos altíssimos, que não compensam o esforço? 
Tem que ter. Estradas (de ferro ou de rodagem, ou fluviais), formas de acondicionamento, pouca burocracia interestadual.


Pois bem.

Aí abro o jornal e vejo (não, não abri: tá na primeira página mesmo): "União executa só 50% do investimento em rodovias".  No corpo da matéria: "... previa a execução de R$13, 627 bilhões ao longo do ano. Até esta semana, apenas 48,3% desse montante - R$6,581 bilhões - foi executado. (...) As obras ferroviárias (...) só receberam até agora 26,9% do planejado. Nas hidrovias (...) 37,8% do total ..." 

A gente tá em outubro. Só pra lembrar.

Cadê incerteza? Precisa de incerteza? 
Tá claro que não vai dar certo, né?
Eu não produzo nada, mas se produzisse, ia botar minhas barbinhas de molho.
Mas ninguém me perguntou nada.
E nem recebo pra dar palpite.
Foi só um comentário à toa.

Ah, e leio o "Valor". Só pro caso de vocês não acharem a manchete.


domingo, 21 de outubro de 2012

Carta ao bebê Felipe LSM - há dezoito anos



Meu amor pequeno,


fazem quatro meses - quase - que você chegou, e eu nunca mais tinha escrito nada. Você chegou e ocupa todo o tempo, todo o espaço, dá vontade de viver cada dia com você.

Trocar suas fraldas, dar beijos na sua barriga e ver você rir fechando os olhinhos, pegar você no colo e acabar com seu bico de choro... tanta tanta coisa acontecendo que quando a gente vê, o dia já acabou. E já vem outro.

Que bom que você chegou, meu amor... dá medo ainda, será que a gente vai saber? Será que a gente vai se dar bem? Mas a gente te olha e te ama, o tempo todo, e quando você tá perto não tem mais dúvidas.

Seu pai é um pai muito lindo, e a gente tá muito juntos cuidando de você. Ainda tem um problema de grana, o emprego do Banco Central não é de repente a solução que a gente queria, mas já dá a maior força a gente passar nesse concurso. Você dá um sentido de prioridades muito grande à vida da gente, e isso é bom. 

Acordar cedo com você, te colocar no sol, te dar papinha de fruta - é tão importante pra mim, meu amor! Tar junto com você, com seu pai, é a melhor coisa do mundo... mesmo que às vezes a gente fique cansado, mesmo que às vezes queira dormir... mas você chora fazendo biquinho e a gente derrete.

... Tô feliz, meu amor, mesmo com essa doença chata que ainda vai demorar um pouquinho, a gente supera, a gente sobrevive, a gente tá juntos!!!

Valeu, Felipe, parabéns pelos (quase) quatro meses de vida,
Te amo, te amo, te amo...

Sua mãe.

6/10/1994.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Geograficamente Prejudicada



Cunhei esse termo na onda dos outros "prejudicados" da nomenclatura moderna. Mas me entendo com ele. E me define.

Sou alguém de inteligência bastante razoável: leio muito e rápido, entendo e traduzo conceitos variados. No quesito orientação geográfica, no entanto, perco todas. Sou provavelmente a pessoa que mais fez "footing" (a bênção, vovô) em volta do teatro de arena da Praia Vermelha, onde se situa a faculdade de economia (atual IE/UFRJ) em que fiz graduação, mestrado e os créditos do doutorado. E pensando: "numa esquina tem o bar do Seu Antônio, então ali é a biblioteca; o banheiro feminino é aqui, então do outro lado é a sala do Galeno... o Possas fica do lado de cá, então logo ali é o David e a Esther". Pensando, galera. Mas já aprendi isso também: se pensar é pior.

Astrologicamente, o planeta mais elevado do meu mapa é Netuno - deus das brumas, da confusão, do esgarçamento e das ilusões. Netuno opõe-se a Sol, Mercúrio, Marte no meu mapa. Muito forte Netuno. Em Escorpião, de águas, tirando meu taurino e terreno chão. A matéria-vida da qual sou feita inclui Netuno dos sonhos (e pesadelos), da imaginação solta e desbragada, do "abrir das brumas" dos loucos e dos iluminados. Amo Netuno. Mas temo-o também.

Se eu entrar no metrô em outra entrada do que a habitual, pego pro lado errado: nem pisco, dou um leve suspiro e salto na próxima pra voltar. Tantas, tantas vezes. Andando na rua, às vezes, "me perco" dentro de mim: num segundo, olho em volta e não sei mais. Pra onde ia, pra onde vou. Paro, respiro, fecho e abro os olhos: lentamente, tudo volta ao seu lugar. Mas o fio é tênue.

Digo isso sempre - que sou geograficamente prejudicada. E, claro, pouca gente se toca ou entende. Quem mora comigo sabe: sou fã e usuária habitual de mapas. Não mapas de cidades estranhas: mapa do Rio, onde moro há trinta e três anos. Hoje em dia fica mais fácil: guglo e vejo - pra onde vou, onde pego condução, onde salto.
Talvez seja por isso que eu não dirijo: tirei carteira - e sem comprar, numa época onde isso era um feito não desprezível - , mas esta está guardada sem nunca ter sido usada. Ganhei um carro com dezenove, que foi roubado na sequência (meu irmão, que não tinha carteira, estava dirigindo) e que estava com o seguro a descoberto, devido a um malentendido ligado a eufemismos da seguradora. Netuno me avisava, já então. 

Tenho ótima visão espacial, quando se trata de pequenos espaços e de formas: sempre fui aluna top em geometria, desenho em "3 D" desde muito antes dos meus amiguinhos de escola, sei, num olhar, se um móvel cabe ou não cabe, como é melhor rearrumar o espaço. O problema é geográfico. Não tenho nenhuma idéia sobre isso, não sei deduzir caminhos ou roteiros a partir das informações que já possuo. 

Por muito tempo tive vergonha disso: mas o tempo é senhor da razão, e uma das liberdades que me deu foi a de aceitar e acolher meus limites. Aprendo caminhos. Mas não entendo, não imagino, não sintetizo. Não faz parte de mim. Fazer o quê. Tenho outras qualidades. Quanto a essa falta, aprendi a viver com ela. Me adaptei. Uso muletas. Mapas, guias. Pergunto sem pejo. Tá tudo certo. Só não posso fazer de conta que a deficiência geográfica não existe: respeito com Netuno.





domingo, 14 de outubro de 2012

Palavras forasteiras



Gosto de "forasteira". Tá na minha descrição de perfil. Forasteira não quer dizer estrangeira. E me lembra John Wayne, saloons, portas curtas e sem trinco. Forasteiro é meu olhar e sempre foi, acho. Será arte?
Tem o Recife. Depois, Genebra, que moldou muita coisa.
E "A Volta", no comecinho da adolescência. Sobre isso é o post. Sobre certas palavras.

Cartório é a primeira. Não havia jeito de eu entender: como assim? Privado? Mas ali você tira documentos? E paga? E ainda é hereditário? Não é possível. Vocês devem tar esquecendo de me explicar alguma coisa. Documento não é exigência do Estado? Como é que não é o Estado que emite? Peraí. Tá errado. Não entendi. Explica de novo.

Carne "de segunda". Outra. Como assim de segunda? Eu gosto mais. Nunca gostei de filé. Mas a que se refere o conceito? Não é tudo parte do boi? Quem definiu o que era "de primeira" e "de segunda"? Um termo que diz tanto. Como sua não-existência em francês também diz (e essa, devo dizer, me dá certo problema até hoje. Tenho que "traduzir" internamente. E não uso.)

CDF. Nessa época aí, em que eu tava forasteiramente aprendendo e tentando me entender, não se dizia ainda "nerd". Se dizia CDF. E eu não conseguia conectar com nada. Eu sempre tirei boas notas na escola. Em Genebra tinha até aquela coisa de prêmios: na cerimônia de fim de ano ("les promotions"), eu sempre ganhava prêmio - um voucher para livro, que me deu um de que gostei muito, sobre o Robin Hood histórico - é, desde sempre eu... - , mas que muitas vezes a gente perdia (Marcelo também ganhava) porque esquecia que tinha prazo. Ou ia no finalzinho e pegava a xepa. Enfim. Voltando... em Genebra, portanto, não havia o termo CDF. Nem o conceito que vem com o termo. Eu era só uma pessoa que tinha a sorte de não precisar estudar muito porque tirava boas notas. Porque lia muito. Porque era atenta e tinha boa memória.
Aí vim pro Rio e virei - fui tachada de - "CDF". E me indignei internamente: ah, não. CDF não. Eu não estudo! Como é que podem me chamar disso? Adrianne é minha testemunha, muitas vezes eu não tinha nem caderno: anotava em papéis soltos. Isso é ser CDF? Não pode ser pelo resultado, né? Ah, vocês tacham pelo resultado? Pois bem.
O resultado - o meu resultado - foi que, no então 1° ano do 2° grau (eu cheguei na 7a: o 1° era meu terceiro ano no São Viça), fiquei em recuperação: Química. Desvirginada, no ano seguinte fiquei logo em três: Química, Física e Biologia. E só não fiquei em quatro porque o Marcelo me passou - ele que sempre foi sensível e atento, e percebeu exatamente o que se passava na minha atormentada alma adolescente. Fiquei em três, feliz: CDF é  a mãe!

Eu e a testemunha Dri, no pátio do São Viça


sábado, 6 de outubro de 2012

É amanhã - e vai ser depois





É amanhã. É amanhã e foi linda a caminhada até aqui. E junto-me ao coro dos que dizem “não importa o resultado, a gente já venceu”.
A gente já venceu. Um partido nanico, sem grana, sem coligações (deve-se dizer que o valoroso PCB não lançou candidato a prefeito para apoiar Freixo), sem tempo de TV.
E foi o que se viu.
De repente, milhares de jovens nas ruas. De repente, o espaço da ABI ficou pequeno pra tanta gente, tanta vontade, tanta energia.
O comício da Lapa, milhares de pessoas embaixo da chuva forte, e sorrindo. Sorrindo porque valia a pena tar ali, porque a gente sabia que era momento histórico, que o padroeiro São Sebastião tava era chorando de emoção com a homenagem, com a demonstração de carinho.
Resistiremos.
E temos resistido. Tamos aí. Porque nada deve parecer impossível de mudar. E nada é. Se a gente acredita, a gente vai. Se a gente vai, a gente faz. E no fazer, quando vê, já mudou.




Pessoas me perguntam e me pedem razões “para acreditar no Freixo”. Gente que me diz que está meio de saco cheio do endeusamento da imagem, da criação de um novo herói.
O que responder a isso? Eu tive, por circunstâncias, a possibilidade de estar por várias vezes na mesma mesa de almoço que Marcelo Freixo, além de conhecer seu gabinete e sua atuação na ALERJ. E afirmo aqui: Marcelo Freixo é isso aí. Nem mais, nem menos. É isso aí que vocês tão vendo. Não faz cena, não inventa, não faz pose. Pessoalmente, de perto, ele é igual. E aí, acho, tá a sua grande qualidade: é “um cara igual”. Igual a ele mesmo. Um cara que dá a cara a tapa. Que mostra a que veio. É isso aí mesmo. 



Única vez na vida em que eu tirei foto com candidato.

Quanto ao “endeusamento”... olha. Não tem muito jeito. Numa cidade tão sofrida. Uma juventude tão desencantada, tão acostumada a ouvir que “política é isso aí mesmo”. Que ouviu Lula no poder dizer que não fazia mais “bravatas” como quando tava na oposição. Que assistiu ao maior partido de esquerda da América Latina virar... bom, nem vou me estender, né. Virar isso aí que a gente tá vendo. Porque de política de possível em política de possível, a gente ainda vai ficar espremido num só ladrilho. Pequeno.

Aí tem esse cara: o cara da CPI das milícias. Só deu porque as circunstâncias permitiram? É evidente, é claro: mas alguém tinha que propor pra dar, não é mesmo? E foi ele. Presidiu a CPI, esse deputado jovem e desconhecido. Aguentou e aguenta a ira dos milicianos protegidos e até defendidos por Eduardo Paes (não vou linkar, mas é só botar no youtube: Eduardo Paes e milícias, tá lá pra quem quiser ver). Sofre ameaças de morte, anda com seguranças. Saiu do Brasil por uns dias, para deixar as coisas se acalmarem. E nem vou responder a quem diz que isso era jogo de cena: a juíza Patrícia Acioli era próxima e querida. Tenham respeito. Vão andar um dia que seja com os sapatos de Marcelo Freixo.

E, com tudo isso, ele diz - e isso é que eu acho que nego tem dificuldade de engolir: “eu só fiz meu trabalho”. Diz isso de verdade, mas quantos subentendidos. Ele fez o trabalho dele e apenas isso. E por isso é jurado de morte. Dá pra entender? Ele fez. E os outros? Fizeram o que mesmo? Fácil é ficar sentado em casa, de chinelos, e chamar quem cresce por estar na luta de arrogante. De “metido”. Vem fazer, ora. Vem mostrar como é que você acha que se faz. Isso muda uma cidade. Muda um país.

E aqui a outra grande novidade dessa capanha, seguindo a trilha de Plínio de Arruda Sampaio em sua candidatura à presidência: a repolitização da política. Marcelo Freixo dá nó na cabeça dos repórteres e diz: “meu partido não se diz socialista; ele é socialista”. Diz “temos que reestatizar o Estado”. Reestatizar o Estado: proposta quase revolucionária nos neoliberais e privatizados tempos que correm. Quando o projeto é embelezar o Rio e vendê-lo pra quem pagar mais. Marcelo diz: “Copa, Olimpíadas? Sim, claro. Contanto que os primeiros beneficiados sejam os cariocas”.

Tentaram colocá-lo no lugar do Gabeira, de “candidato Zona Sul”: mas Marcelo Freixo não é da Zona Sul: nem é do Rio, é de Niterói e de família de classe média-média. Isso molda seu olhar sobre o mundo. Caetano bem reconheceu isso, quando, no lindo show “Primavera Carioca” - mais uma manifestação espontânea de alguém que ama o Rio -, contava o Rio a partir do seu olhar de menino de Santo Amaro, que morava no subúrbio e pegava o trem da Central. Esse Rio.

Quando não era ninguém, Marcelo Freixo tava dentro das prisões dando aula de história. E daqui a pouco vão dizer que ele já fazia isso pensando em enfeitar sua biografia pro futuro...


Né. As pessoas dizem coisas.

E, enquanto isso, quem viveu essa campanha se abraça com brilho no olho, um brilho quase esquecido. E vai pra rua, vai andar com Freixo, vai abraçar o Maraca, vai acompanhar a apuração na Lapa.
Porque, o que quer que aconteça amanhã - e tantas surpresas são possíveis -, a gente já ganhou. E isso não para aqui. Isso é só o começo. E que lindo começo.






Obrigada, Marcelo, pela possibilidade de viver essa campanha. Obrigada, todo mundo. Milton, Chico, Eliomar, Cinco, Paulo Pinheiro, Babá, Mozart e tantos; Pedrinho, Tiago, Julia, Dudu, Renato, Magda, Zé, Mariozinho, André, Leo, Suely, Zé da Lata e Suely, Marisa, Sérgio Granja, Cataldi e todos os outros. E, claro, as companheiras do http://fechocomfreixo.com/ , Kika e Bia.


Foi bom andar com vocês até aqui. Foi bonito, foi alegre, foi colorido. Vamos adiante!