quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Pequeno comentário à toa sobre certezas e demanda efetiva




Vejo tantas vezes as pessoas enfatizarem o princípio da incerteza quando falam de Keynes.
O fato de que as decisões são tomadas "para um futuro incerto".
De que o tempo não volta. Nem para, já dizia o... vocês sabem.
Enfim.

O que Keynes a mim ensinou foi que a demanda (aka "demanda efetiva") não é, ao contrário do que pretendia  afirmar Marshall, o anverso da oferta. Não é similar-só-que-ao-contrário.
Não.
Numa sociedade capitalista - na nossa sociedade capitalista -, diz Keynes (e com ele Kalecki, e como sou formada na UFRJ não dá pra não mencionar, porque o Kalecki era polonês, não pertencia ao Grupo de Bloomsbury e falava meio grosso: mas diz o mesmo que Keynes de forma muito mais direta. Talvez por isso seja tão menos pop), produz-se para vender. Para vender obtendo lucro. Se isso é verdade, a oferta não é livre e independente: depende de ser sancionada pela venda, a preço considerado razoável pelos produtores.

Senão na próxima rodada eles produzirão menos; e, ao contrário, se há sinais de que a demanda está "aquecida" - filas, sobrepreços -, e de que isso não é fenômeno passageiro, na próxima rodada produzirão mais.

Pra vender, é bom lembrar: tem que ter infraestrutura. Porque de que adianta eu produzir um monte aqui, o pessoal do Acre estar louco pelo meu produto, e eu não conseguir fazê-lo chegar lá? Ou só a custos altíssimos, que não compensam o esforço? 
Tem que ter. Estradas (de ferro ou de rodagem, ou fluviais), formas de acondicionamento, pouca burocracia interestadual.


Pois bem.

Aí abro o jornal e vejo (não, não abri: tá na primeira página mesmo): "União executa só 50% do investimento em rodovias".  No corpo da matéria: "... previa a execução de R$13, 627 bilhões ao longo do ano. Até esta semana, apenas 48,3% desse montante - R$6,581 bilhões - foi executado. (...) As obras ferroviárias (...) só receberam até agora 26,9% do planejado. Nas hidrovias (...) 37,8% do total ..." 

A gente tá em outubro. Só pra lembrar.

Cadê incerteza? Precisa de incerteza? 
Tá claro que não vai dar certo, né?
Eu não produzo nada, mas se produzisse, ia botar minhas barbinhas de molho.
Mas ninguém me perguntou nada.
E nem recebo pra dar palpite.
Foi só um comentário à toa.

Ah, e leio o "Valor". Só pro caso de vocês não acharem a manchete.


2 comentários:

  1. Devo dizer que o Davidson, que quando faz teoria é tudo sobre incerteza, quando tem que explicar porque há desemprego deixa claro que a incerteza é com relação à falta de demanda. Senão veja http://nakedkeynesianism.blogspot.com/2012/07/real-world-vs-confidence-fairy.html

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