quarta-feira, 20 de julho de 2016

Para um amor no Recife

Meu amor,

eu sei. E fico com pena de não estar aí, bem porque sei. Não adianta ninguém dizer nada, mas sou boa de não dizer nada. De ficar do lado, só. Respirando junto. Estando ali. Deixando a tristeza se espalhar e invadir e se enroscar, como uma onda. Que vem. Mas vai também. Ela vem e se enrosca, a gente fica ali, quietinha, e ela vai. O negócio é saber esperar. Prender a respiração quando ela submerge, aquietar o coração. Aí ela vai indo, vai indo e... quando você vê, já está conseguindo respirar de novo. Já dá pra abrir o olho. 


Sorrir? Talvez ainda não. Demora um pouquinho. Precisa ter paciência pra isso também. Acolher a tristeza do jeito que ela vem. Não fazer de conta que não existe, não querer jogar pra baixo do tapete ou enfiar no fundo do armário. A tristeza faz parte. Deixa ela vir e se instalar. Não é inimiga, apenas é. Tem os dias-sim, os de sol e de canto no peito: desses a gente já sabe gostar. Há que cuidar de aprender os dias-não, os de cantinhos escuros, de sombra, de rosto molhado. A dor funda. Respira, deixa acontecer. É movimento, é vibração, é onda, é balanceio. Pra lá, pra cá... balança ela na rede, embala ela. Canta pra ela dormir, baixinho. Devagarinho. Alisa, amansa, afaga. 
... Pronto. Viu o que eu te dizia? Adormeceu...



2 comentários:

  1. Prefiro deixar a tristeza ser, pois nada do que é dura para sempre.
    Beijo.
    Verô

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    Respostas
    1. Beijo, querida. Era meio isso o que tentava dizer por aqui. Deixar ser. Deixar acontecer. Acolher.

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