terça-feira, 27 de março de 2012

Icebergs gelatinosos

Porque tô sem escrever, mas precisando - muito - voltar a, passo só pra exercitar um pouquinho. Só pra dizer. Sem mesmo saber o que, só pra dizer.

Então vou começar falando do mundo virtual e de umas coisas que andei pensando sobre ele. Umas coisas assim: quem não frequenta, quem se orgulha de não entrar no feicebuque, de nunca ter aberto o tuíter, de não comentar em blogs, tende a acreditar que existe uma separação clara, uma linha nítida: a "realidade" lá fora, e o ciberespaço,  "ilusório". Um tempo perdido, um tempo irreal, que toma tempo da vida de verdade que tá lá fora.

E quem passeia por esses espaços sabe que não é nada disso, que essa linha não existe, que a gente tá aqui e lá ao mesmo tempo. Que a rede amplia. Que abre outras formas. Outras linguagens. Outros contatos. Não menos reais porque virtuais.

A gente já é iceberg normalmente, né? Só uma pontinha fica pro lado de fora. Os outros, que dizem que conhecem a gente, na verdade conhecem isso: a pontinha do iceberg. Às vezes a luz bate diferente, ilumina o gelo em ângulos inusitados. Mas todo o resto fica submerso. Não necessariamente por querer, não apenas de caso pensado - muitas vezes porque não há oportunidade. Porque o tempo de hoje comporta os encontros de hoje, limitados em hora e local. E tem todo um passado. Todo um mundo de histórias, de sonhos. Outras facetas. Que até anseiam por serem contadas, por serem mostradas - mas em que momento? E pra quem?

O mundo das redes, das garrafas ao mar, possibilita isso. É como se o iceberg, de repente, ficasse mais gelatinoso, pudesse rolar no mar e se apresentar em novas posições. Inesperadas. Esquecidas. Por tanto tempo submersas.

Vem lá um e posta uma música, vem lá outro e comenta. E você nunca teria pensado. Um dia você sugere um texto, ou digita uma frase à toa. Uma frase que passou pela sua cabeça, linda, pronta, mas que ali ficaria se não desse para jogá-la tão rapidamente no mar da internet, para eventuais passantes. Que param, dão uma olhada, comentam. Sorriem.

Conversas começam, acabam, agregam participantes. Amizades, contatos, relações. Brigas, discussões. Histórias que vão se tecendo, como todas as histórias. Virtuais, sim, mas nem por isso menos reais.

É um mundo curioso, intenso, às vezes cruel. Mundo de ondas, mundo de códigos.
Mas também de brincadeiras, de levezas e descarregos. De risadas, de encontros. De horizontalidades.

Em que o iceberg gelatinoso rebola, aos poucos se exibindo.
Aos poucos. Devagar. Desavergonhadamente.

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