domingo, 31 de julho de 2016

Meus dois tostões sobre Me Before You

Foi assim: as amigas todas em polvo rosa por conta de "A Amiga Genial", da misteriosa autora italiana (?) Elena Ferrante. E eu já tinha visto em livraria, já tinha aberto e começado a ler, mas não tinha me conquistado. Aí a Mary W escreveu esse post aqui, já sobre o segundo volume - amei, claro, e resolvi tentar de novo.

Aí, amigos, deu-se uma daquelas coisas que só ocorrem quando se é, como eu, uma dinossaura de livrarias em sua forma física. Entrei decidida na Travessa de Botafogo, e logo perto da porta me deparei com uma pilha de "A Amiga Genial". Peguei o de cima, abri. Li uma página, duas, três e... larguei (vou acabar tendo que ler o resto só pra entender o tamanho da minha dificuldade com um livro desse tipo, que tinha tudo pra eu gostar e recomendado por gente de que gosto tanto). Na pilha ao lado, tinha "Me Before You" ("Como Eu Era Antes de Você", em português. Mas o nome em inglês é tão mais fofo. Por que será que não botaram "Eu Antes de Você"?), de Jojo Moyers. Imaginei - corretamente - que fazia parte do mesmo pacote: best-seller, chick lit. Minha praia, em suma. 

Peguei um livro e.... não soltei mais. Li várias páginas ainda na livraria, continuei lendo no metrô de volta pra casa, acabei de ler em dois dias, nos intervalos das obrigações. Por puro acaso, esbarrei com o segundo volume ("After You", dessa vez traduzido direitinho para "Depois de Você") e li tão rápido quanto o primeiro. 

Vá você entender o que pega num, o que não pega no outro. Sobre "A Amiga...", ainda não sei, mas realmente pretendo investigar, de tal forma acho estranha essa aversão e esse bloqueio tão pouco característicos. Sobre "Minha Vida Antes de...", tenho uma ideia. A voz me pegou. A voz da narradora, que na maior parte do tempo é a personagem principal, Louisa Clark. Uma moça com gosto por roupas engraçadas, que mora numa cidadezinha perdida no interior da Inglaterra, trabalha num café sem muitas pretensões e de um dia pro outro se vê desempregada. Lou mora com a família e tem um namorado viciado em exercícios e boa forma. Uma pessoa sem grandes questões. Mas que olha a vida de forma divertida, como divertido é o texto do livro. Um livro que poderia ser triste e meloso, já que o próximo emprego de Lou é cuidar de Will Traynor, um tetraplégico jovem e amargo que era extremamente bem-sucedido e dinâmico antes do acidente que o prendeu a uma cadeira de rodas. Eu jamais compraria um livro com a sinopse deste ("jovem sem ambições vai trabalhar cuidando de paraplégico e isso muda seu olhar sobre a vida"), caso não o tivesse aberto na livraria. A história é qualquer uma. A voz, não. A voz é o que me pega: como a história é contada é o que conta. Se me permitem. Um humor tão inglês, bordado em subtons e sobrancelhas levemente erguidas.

Não esperem grandes profundidades: é chick lit mesmo, no sentido não só de ser literatura para mulheres, mas de ser literatura leve, de férias, com um pé no romantismo e sem grandes reflexões.  Um livro bom de ler à beira mar, balançando na rede... Mas (me) faz sorrir, me emociona, me dá vontade de conhecer e conversar com a Lou. De ter notícias dela agora, depois de tudo. Diverte, distrai. E não simplifica demais. O final é o que tinha que ser e isso também é uma das qualidades do livro. 
Vão lá. Espero que se divirtam tanto quanto eu me diverti.

P.S.
Vi o filme também, cujo roteiro é da autora. O filme não "rende" tanto quanto o livro, mas cumpre a função de manter o tom. É leve, é divertido. Do casting, gostei bem da atriz principal que faz a Lou (Emilia Clarke, a Daenerys de GoT), do rapaz que faz o Will (Sam Clafin, de Jogos Vorazes) e tanto, tanto, do pai dela, feito pelo Mr. Bates de Downton Abbey (Brendan Coyle). Sotaques ingleses, como se deve.





quarta-feira, 20 de julho de 2016

Para um amor no Recife

Meu amor,

eu sei. E fico com pena de não estar aí, bem porque sei. Não adianta ninguém dizer nada, mas sou boa de não dizer nada. De ficar do lado, só. Respirando junto. Estando ali. Deixando a tristeza se espalhar e invadir e se enroscar, como uma onda. Que vem. Mas vai também. Ela vem e se enrosca, a gente fica ali, quietinha, e ela vai. O negócio é saber esperar. Prender a respiração quando ela submerge, aquietar o coração. Aí ela vai indo, vai indo e... quando você vê, já está conseguindo respirar de novo. Já dá pra abrir o olho. 


Sorrir? Talvez ainda não. Demora um pouquinho. Precisa ter paciência pra isso também. Acolher a tristeza do jeito que ela vem. Não fazer de conta que não existe, não querer jogar pra baixo do tapete ou enfiar no fundo do armário. A tristeza faz parte. Deixa ela vir e se instalar. Não é inimiga, apenas é. Tem os dias-sim, os de sol e de canto no peito: desses a gente já sabe gostar. Há que cuidar de aprender os dias-não, os de cantinhos escuros, de sombra, de rosto molhado. A dor funda. Respira, deixa acontecer. É movimento, é vibração, é onda, é balanceio. Pra lá, pra cá... balança ela na rede, embala ela. Canta pra ela dormir, baixinho. Devagarinho. Alisa, amansa, afaga. 
... Pronto. Viu o que eu te dizia? Adormeceu...



quinta-feira, 14 de julho de 2016

Inventariozinho à toa



Um chá em xícara de porcelana, um biscoitinho do lado.
Uma mesinha de pé com toalha bordada.
Uma fivela de cabelo esquecida na pia do banheiro.
Um pente de madeira de dentes longos, bom para pentear cachos.
Um par de pantufas de focas, já meio gasto.
Um livro marcado em páginas várias. Sublinhado em cores diferentes.
Um guardanapo com marca de batom vermelho.
Uma taça de vinho com a mesma marca.
Um cinzeiro e vários cigarros.
Uma toalha felpuda, ainda úmida.
Um chaveiro com um olho, uma pimenta, uma figa e muitas chaves.
Uma pitada de risos, um pingo de saudade, um suspiro de desejo.
Uma mancha de tinta. Uma lágrima.






terça-feira, 5 de julho de 2016

Demoro pra fazer ninho

Acho que o completo é assim: demoro pra fazer ninho, preciso fazer ninho. Preciso me sentir segura, confortável, instalada no ninho. Pra poder. 


Poder o quê, me dirá você. Poder qualquer coisa. Dar minha opinião, por exemplo. Porque isso é em qualquer lugar: no trabalho, enquanto não me sinto à vontade, em casa, segura, tenho dificuldade de falar. E já perdi muito ponto na vida com isso. Sou rápida e objetiva depois que começo, mas tenho grande dificuldade de começar. E isso parece estar associado a essa necessidade de fazer ninho.


"Você é pop", me dizia um amigo sobre o meu aniversário. E eu lembro de tanto tempo em que já não fui pop. E tinha medo. Que ninguém fosse. Que eu ficasse sozinha. Até hoje tenho dificuldade de ver cenas de filme em que isso acontece. "A Corrida do Ouro" é o que me ocorre. O personagem do Vagabundo do Carlitos convida a moça pra jantar, ela acha graça e aceita. Mas esquece, não vai. Eu era criança e me debulhei em lágrimas, lavei o cinema de lágrimas. Ser esquecida: a dor maior. O medo constante.

Aí, fui descobrindo ao longo da vida: a solução é o ninho. Fazer meu canto, me sentir bem, aconchegada. Daí vai. 

É claro que nem sempre é possível. No mundo do trabalho? Canto? Aconchego? Não é exatamente disso que se trata.... Tento. E quando não dá, não ando. Uma tragédia, já que não tenho herança, não tenho dinheiro guardado e preciso trabalhar pra sobreviver. Vou embora. Largo, abandono. Não consigo levantar, não consigo ir. Quem me conhece há tempos sabe: ajo como se fosse dona do mundo, como se pudesse me dar ao luxo. Não posso. E, mesmo assim, faço. Fazer o quê.

Ontem, falava de ambientes tóxicos: aprendi a identificá-los. E, sempre que possível, a me proteger. Sou a anti-competidora, só sei trabalhar junto. Se o ambiente pede que se mostrem as garras, que se afiem as facas, não sei fazer. Me assusto, me encolho no canto, tenho vontade de chorar, de fugir. Mas se for pra construir, pra fazer coletivamente, aí acho que posso dizer que sou boa: trabalho em equipe é o que sei melhor. Se for eu a coordenadora da equipe, sei construir o ambiente de confiança e segurança necessário para que tudo funcione a contento.

Só que não aguento injustiça. Não sei levar bronca por algo que não fiz e ficar calada, não sei ver gente explorando os outros do meu lado sem tentar intervir.... mais pontos perdidos com isso. Por não ter ficado quieta. E, às vezes, era melhor mesmo ficar quieta, já que eu não poderia fazer nada. Só que não sei.

Trabalhar em casa, em ambiente virtual, resolve parte das questões. Não todas, entretanto: prefiro mesmo ter horário, sair de manhã, voltar à noitinha, esquecer o trabalho quando não estou lá.... em casa, não há "lá". Há o trabalho que se acumula, a procrastinação, as interferências. E sinto falta das trocas presenciais. Mas é ninho, sem nenhuma dúvida.

Comecei achando que ia escrever sobre algo e o texto deslizou por vontade própria, numa conexão entre meus dedos e uma parte do cérebro que não é a vontade consciente. Como tantas vezes. Como se fosse uma análise de divã, como se estivesse no consultório da Betty e observasse minha voz dizendo palavras e construindo fios de sentidos que eu nem sabia que existiam.

O eixo é o ninho. O ninho de que preciso. A casa, o canto, os amigos de copo e de cruz. Sou tartaruga. Levo isso comigo, pra onde for. Preciso de espaço para descansar meu casco. Abrir minha barraca. Largar minha âncora.

Até viajando faço ninhos: o café em que conheço o garçom, a praça em que passo todo dia, a banca onde compro jornal e converso com o jornaleiro... Numa viagem de uma semana, já dá. Ancoro lugares estrangeiros em mim e sinto saudade. Me impregno e passo a ser um pouquinho dali também. Por uma semana, fui dali. E a memória guarda.

Disse que demoro? Demorar é relativo. Depende do acolhimento, da receptividade. Não depende de mim - essa a parte que me angustia. Ah, se tudo dependesse de mim....

Aí vou indo. Fazendo ninho sempre que dá. Nômade aconchegada. Cigana ancorada. Em embarcadouros às vezes improváveis. Em ilhas repentinas. Em peitos largos e mornos.
E sinto saudade. Infinita. Pra sempre.



segunda-feira, 4 de julho de 2016

Astrologia: qual é a minha praia

Pois é. Quem não lida com isso não sabe, mas é claro que tem especializações, tendências. Diferenças de fazer e de ver. Astrologia mundana, astrologia horária, astrologia tradicional....
Minha praia é mais facilmente contada pelo viés das mestras: Claudia Lisboa e Martha Pires Ferreira. 

Claudia foi a primeira, a que me deu régua e compasso. O vocabulário, o jeito de olhar. Ela vem da linhagem começada por D. Emy, Emma Costet de Mascheville, uma senhora de nome de princesa e alma ampla, de muitos filhos biológicos e astrológicos. Eu sou uma neta, dentre tantos. Claudia, luminosa, em sua casa branca no alto do morro, ensinava desfiando, piscianamente: contando história. Fazendo caminho. Um curso de vários anos, porque astrologia não se aprende do dia pra noite. Indo pelos signos e seus significados. Pelas casas, pelos aspectos. Revelando pra gente a gramática por trás daquilo tudo. Sem esquecer a arte. Sem nunca esquecer a arte.  

Martha Pires foi a segunda: autodidata, irreverente, sábia toda vida.... no principado de Santa, entre estantes e quadros, levou a gente (Miriam, Jayme, eu) a aprofundar aspectos, trouxe novo olhar vindo de tantos anos de prática, conduziu a gente pela mão no estudo de mapas de famosos. Vidas fechadas e conhecidas, boas para entender a matéria da astrologia. Uma alegria ver a Martha interpretando um mapa. 

Tanto uma como outra têm em comum a generosidade e o brilho no olho: uma curiosidade permanente, uma vontade de destrinchar mais, de aprender mais que não cessa. Considero que fui muito abençoada: grandes mestras essas. Agradeço (aos deuses, aos orixás, ao acaso). 

Depois dos anos de aprendizagem, o negócio é fazer caminho, que astrologia é prática. Nem sempre tranquilo, nem sempre fácil: mas um caminho bom de andar, viu.

Os mapas de gente é que são minha praia: do resto sou observadora interessada. Gosto de fazer mapa de gente que "não acredita": não tem a ver com acreditar, não é mesmo? Não é para convencer, que também não é disso que se trata. Para apresentar. Como uma forma de ver, de organizar isso que a gente chama de realidade. 

Mapas de clientes desconhecidos: fascinantes pelas descobertas. Pelos encontros das pessoas consigo mesmas, de uma forma diferente. É um caminho a se fazer juntos, uma troca: o mapa permite uma análise simbólica e quem dá concretude aos símbolos é, evidentemente, quem o vive. Assim, os mapas em que o cliente não abre a boca ficam mais pobres, na minha opinião. "Les meilleurs thèmes sont ceux dont le client fait lui-même la moitié", parafraseando Voltaire.

Mapas de gente conhecida, amiga: é sempre um encantamento. Como se eu estivesse conhecendo a pessoa de novo: outro olhar. Chego no mapa desarmada, sem procurar confirmar o que já sei sobre a pessoa. E em geral me surpreendo. No começo foi difícil, é grande a tentação de buscar reforços às "verdades" que se sabe: mas é claro que o propósito não é esse, e à medida que se vai adquirindo confiança, pela prática, vai ficando mais simples olhar com olhos novos. De ver. "Olhos de criança", como uma vez me disse alguém.

Revoluções solares: o ritmo e o arranjo do ano ao tocar a melodia do mapa. Alguns mais agitados, outros mais tranquilos; alguns mais cheios de bossa, outros mais básicos. Com ênfases em áreas diferentes. 

Sinastrias: como se dá sua relação com o outro? O que há em comum, o que há de particular? Onde os encontros, os desencontros? Qual a fonte dos desentendimentos e das dores? Ajuda um tanto olhar e saber. Acho que dá certa acalmada.... e pode colaborar para novas formas de trocar e de compartilhar. 

Por aí vou caminhando. Lentamente, como boa taurina. Um pé após o outro, na busca da segurança. Este ano, fazem dezesseis anos que comecei a estudar astrologia. Foi no ano 2000, vejam só... um ano fértil. Em janeiro de 2001, nasceria meu segundo filho. Veio junto com a astrologia. :) 


Mestras: Claudia e Martha. Obrigada!

foto daqui.