quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Duas listas e o lado-sombra






O meme desses dias no feicebuque: listas. Do que as pessoas não sabem de você. Do que as pessoas deveriam saber de você. Fiquei pensando nisso. No que a gente escolhe pra contar. Fiz minhas listas sem pensar muito, no estilo uma-coisa-puxa-outra. Mas adiciono uma terceira aqui, pra efeito de comparação. Uma lista "sombria". Tudo sou eu, tudo depende de como se conta essa história. O que se pinça. Qual é o ângulo.
Vão as duas primeiras, e a terceira do "lado-sombra". Que talvez nem seja. Mas enfim.

A primeira, de coisas que talvez não saibam sobre mim

1. sou canhota
2. nasci na Maternidade São Paulo (embora não vá contar pro FB)
3. desenhar é das coisas que me fazem feliz na vida
4. só decidi mesmo o que ia fazer na fila do vestibular
5. por muito, muito tempo, tive medo de dormir no escuro
6. até os 12 anos não sabia que as pessoas recebiam carta em casa, porque a gente não
7. a primeira coisa de que lembro é do nascimento do meu irmão: eu tinha 1 ano e 360 dias
8. releio livros como reencontro velhos amigos
9. amigo pra mim é pra sempre: tenho a maior dificuldade de deixar de gostar de gente
10. faço uma interpretação bem boa da Dalida cantando "Paroles Paroles", em francês com sotaque italiano
11. ou é com intimidade ou não será
12. assobio lindamente com dois dedos na boca
13. o filme que eu vi mais vezes na vida é Pele de Asno, do Jacques Demy (ah, meu príncipe)
14. adoro os desenhos de princesa da Disney, com especial predileção por Cinderela
15. cheguei a pensar em largar a faculdade pra estudar canto lírico
16. Agatha Christie é minha mentora
17. Rezo quando viajo de avião. Na decolagem e na aterrissagem. Toda vez. (em time que tá ganhando...)

A segunda, de coisas que deveriam saber:

1. o fato de eu ter passado a infância fora do Brasil por conta de perseguição da ditadura moldou minha identidade e meu olhar sobre o mundo
2. eu falo com as mãos, sempre
3. faço caretas, muitas
4. minha voz meio rouca é boa pra cantar e eu adoro
5. gosto de comer com gente de que gosto
6. sou de mesa de bar, encontros, copos e gargalhadas
7. gargalhada: dá pra ouvir do outro quarteirão
8. mato barata sem nem piscar
9. sou tímida e espalhafatosa
10. sou do Recife com orgulho e com saudade, embora não tenha nascido lá
11. Como a Ana Paula Medeiros, sei usar a crase e lhe devoto certo afeto, mas como somos só nós duas, acho que ela deveria acabar e não se fala mais nisso#AbaixoACrase
12. a família e os amigos são o meu esteio e a minha casa
13. se precisar, pode me ligar
14. uma alegria: criar redes entre as redes
15. Outra: dormir em rede
16. independência de pensamento está entre meus valores mais preciosos
17. não tem lugar onde eu esteja tão feliz quanto na estrada
18. sou da galera do "por que não?"

E uma a mais: sou feliz no carnaval.


A terceira, o lado-sombra:

1. Minha mãe foi embora sem eu saber quando eu tinha dois anos, e só me recuperou umas semanas depois
2. Durante boa parte da infância, tive pesadelos horríveis, que me faziam ter pânico de dormir
3. Perdi minhas coisas todas quando tinha sete anos e meus pais tiveram que sair do Brasil. O que eu queria    ter recuperado eram os álbuns de fotografias
4. Cheguei de volta ao Brasil com quase 13 anos: era estrangeira e não tinha mais pra onde fugir
5. Com 17 anos tive uma gravidez tubária e fiz uma cirurgia de emergência que me fez perder uma trompa
6. Fui assaltada no meu quarto, na minha cama: me acordaram com um revólver na cabeça. Eu devia ter uns  19 anos e morava com meu irmão de 17
7. Quando meu primeiro filho nasceu, tive um linfoma de Hodgkin, que me obrigou a parar de amamentá-lo com três meses pra fazer quimioterapia
8. A saudade sempre fez parte de mim.

Releio o lado-sombra. Sou eu também. E não sou. É apenas outra forma de contar a história. A gente escolhe.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Pessoas inteligentes e supostamente bem informadas

Pessoas inteligentes e supostamente bem informadas. Supostamente (e esse é necessário, ao contrário de tantos outros).

Pessoas inteligentes, articuladas, mas que estão fora das redes sociais. Onde é que elas se informam? Nos jornais, ora. Jornais? No Rio hoje só tem um jornal. Um único jornal. Monopólio absoluto. E eles sabem. E manipulam. E mentem. E não noticiam. 
E é tudo feito para vender uma opinião específica. 
As manifestações? Incríveis, alegres, enormes, diversificadas e... só se noticiam as "depredações", os "vândalos".
Polícia? Violência? Pancadaria? Ninguém sabe, ninguém viu.
São vândalos, afinal. Vândalos que depredam o patrimônio.
Prisões arbitrárias, sem sentido, de gente que nem se conhece, por "formação de quadrilha"? Não, a notícia é que "vândalos" foram presos.
"Vândalos" é o novo pretinho básico. Pretinho black bloc básico.
Black blocs aplaudidos pelos professores, apoiando as manifestações?
Ninguém sabe, ninguém viu. Muito menos a nossa monolítica imprensa.

Mas quando um coronel é agredido em São Paulo, ah, aí é diferente.

E o Rafael, catador, que continua preso por porte de Pinho sol desde 20 de junho?
E o Baiano, preso na manifestação de 15 de outubro junto com tantos outros "vândalos"?
E a manifestação na escadaria do IFICS, onde os meninos liberados relataram as violências sofridas, onde a instituição tomou posição contra a violência da polícia, contra as arbitrariedades, contra a democracia ameaçada, quem cobriu?
Quem?
E a manifestação da semana passada, as pessoas andando em silêncio pela Rio Branco, todo mundo junto, calado, caminhando pelo estado de Direito e contra as prisões que se mantém?

Quem cobriu?

Não teve violência? Não teve "vândalos"? Ah, não interessou à imprensa. Imprensa? Não interessou a nosso único jornal. A nossa (quase) única rede de TV.

Aí, sinto muito: pessoas inteligentes, articuladas, não dá nem pra começar a conversar. Não dá pra conversar com base na descobertura do monolito.
Informem-se primeiro.