quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Uma história de rodas e redes

Esta semana, como acontece de vez em quando, estive em uma mesa em que eu era a única pessoa participante efetiva de redes sociais. Uma situação rara, mas ainda existente. Pessoas que não estão nas redes sociais, ou que apenas estão para fazer contato com os próprios amigos "reais" - de fora das redes.

Na verdade, não só nas redes sociais: na internet em geral. Porque, como muita gente sabe, antes das redes sociais eram os blogs. E suas caixas de comentários: lugares onde a gente se encontrava e conversava, onde a gente aprendia a conhecer gente e acabava criando relações.
Depois vieram as redes, e pra elas a gente migrou. Aumentou, claro. Intensificaram-se os contatos, as possibilidades, os encontro. Multiplicaram-se as redes e a gente passou a esbarrar com as pessoas lá e cá, em uma e outra.


Como é frequente acontecer, as pessoas-que-não-frequentam-redes são cheias de opiniões sobre elas. E esse é um raros dos casos em que eu sorrio e deixo passar o assunto. Sorrio, balanço a cabeça, deixo passar. Quem me conhece sabe que isso é um "quase nunca". 

Mas nesse caso, não acho que valha a pena. Não pretendo convencer ninguém a entrar: quem quiser que entre. Além disso, não basta entrar, acho eu. Porque você pode entrar e fazer desse jeito: não posta nada pessoal, não conta nada sobre si mesmo, não adiciona ninguém que já não conheça. Entrou mas não provou.

Pra provar, é aquele negócio: tem que brincar de iceberg gelatinoso. Rebolar. Deixar-se ver. Mostrar um lado, outro lado. Uma curva diferente. Um brilho inesperado. Um toque ácido, um sabor suave. Daí as miudezas que dizem desnecessárias. O que você come, quem viu quando foi correr, o pôr-do-sol generosamente compartilhado com os amigos, a história dos gatinhos bebês, o sonho da noite passada.
Desnecessárias?
Mas não é assim que a gente se conhece?

Só que é essa a beleza das redes: a gente não precisa saber de antemão que tenha alguém escutando. É lago, é praça: a gente lança a garrafa com a mensagem. Chegou em alguém? Teve resposta, fez contato? Olha só. Olha quem curtiu, quem comentou.... eita, essa eu não esperava. Fulaninho gosta dessa música? Quem diria. E aquela ali, vê o que ela disse sobre a foto da orquídea na frente da minha casa... Hahaha pelos terninhos do dia-a-dia, ninguém imaginaria que tivesse tanto senso de humor. E o amigo de Fulano, aquele diplomata lá da Índia? Você já conhecia? Ah, não, aquele foi uma descoberta de alma gêmea. Que bom que tem as redes, né. Afinal, ele tá na Índia. Onde é que a gente iria se conhecer se não fossem as redes?

Pois é. Isso é algo que se vive, não se relata. O relato disso ia parecer tentativa de convencimento, propaganda do tio Zucka (ó, tio Zucka, olha eu falando bem de tu aqui. Mas nem. Tu nem imaginava que ia virar isso, confessa). Então não faço. Ainda mais que a gente sabe: capitalismo mau, a gente posta conteúdo e eles ganham dinheiro, eles tão sugando a gente, tão invadindo privacidades, o interesse deles é só tirar o que podem e o que não podem da gente.
E eu lá vou discutir verdades tão óbvias? Tô falando é do resto. E o resto.... aí tem que viver por conta própria. Eu é que não vou conseguir contar.
Sorrio, balanço a cabeça, deixo passar.