quinta-feira, 4 de abril de 2013
O que não se diz
É uma lembrança de filme. Um filme que entremeia depoimentos de mulheres presas e torturadas durante a ditadura, com uma personagem (vivida pela Irene Ravache) cujas falas também são tiradas de depoimentos reais. Da Lucia Murat: "Que bom te ver viva".
Tem certo momento em que a personagem da Irene Ravache fala do desconforto dos amigos, após um primeiro momento de alegria e alívio, do "que bom te ver viva". Mas aí vem o desconforto.Desse assunto estar tão aí, tão presente. Tem uma vontade, ali na beirada, de dizer "pronto, passou, acabou". E mudar de assunto. Porque essa dor, essas feridas, o que ficou, é incômodo também. A gente gostaria de poder virar a página, de poder voltar ao que era antes, de apagar aquilo. E o assunto continua ali, presente.
Tão mais presente que acabou, mas não acabou. Sem encerramento, sem fechamento. Só um "pronto, passou". E aí? O que fazer com aquilo tudo tão presente, tão ali, enquanto todo mundo continua com a vida?
Pesada demais. Com histórias demais. Deprimida demais. Por que não deixar passar, viver a vida, se tornar mais leve, aproveitar o momento, carpe diem e tudo isso? A vida é agora, a hora é essa, o futuro te espera. E no entanto.
Ainda. Continua. Tá ali. Não vai embora. Não se dissolve, não se apaga, não desaparece.
Que deselegante.
Que desagradável.
Que incômodo.
Para com isso.
Larga isso.
Pra que voltar a falar nisso?
Lá vem você de novo.
Agora não é hora.
Pensa em outra coisa, vai.
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Este post foi escrito para a VII Blogagem coletiva #DesarquivandoBR
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Não adianta dormir, que a dor não passa!
ResponderExcluirPois é, Dalva. Difícil, né?
ExcluirOdeio essa ditadura da felicidade a qualquer preço!
ResponderExcluirlição universal. parabéns pelo texto.
ResponderExcluirPensa em outra coisa, vai............. não vai. Porque não dá.
ResponderExcluirAdoro visitas inesperadas a blog silencioso... :)
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