terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Uma galera contra Netuno



Aí tem uma hora em que eu me olho no espelho e não me reconheço mais.
Quem é esse ser sem forma, fluido e sem contornos, esse ser-esponja marinha que tudo absorve e incorpora? Cadê eu, meu corpo definido e tendendo para o pontudo, suas pernas, seus joelhos, cotovelos - eu-cavalo de fogo, cadê?

Netuno dissolve e dilui, espalha e transborda. Netuno indefine. Enevoa. Desincorpora.
E meu mapa conta essa história, é assim - uma galera contra Netuno. E Netuno ganha. Eu deságuo. disperso. Me perco.

Mas mesmo lá do fundo da nuvem, lá longe da praia, eu sei, lembro baixinho, mas lembro: tem "uma galera". Sol, Marte, Mercúrio. Todo mundo ancorado na placidez taurina, na segurança terrena, na concretude bovina. Todo mundo fazendo contrapeso à dissolução de Netuno.
E justo quando eu pensava que desta vez não ia e que eu ia afundar de vez nas águas turvas, emerjo: recupero forma, solidez, corpo, chão. Piso na praia.
 Recupero.
[inspira]
 Eu.
[expira]
 Identidade.
[inspira]
 Sou.
[expira]
Nome.
Renata.
Renascida.
Mais uma vez.



imagem daqui

2 comentários:

  1. sabe o que acho engraçado? eu te acho sólida. ao menos mais do que eu.

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