Simone muito querida,
fiquei de participar da blogagem coletiva do dia de hoje, pelo fim da violência contra a mulher. E não tô conseguindo escrever.
Porque, claro: como escrever sobre esse tema, logo agora, sem falar de Patrícia. Porque não dá pra falar de violência contra a mulher sem lembrar de Patrícia. De Patrícia que se foi tão cedo e tão violentamente.
Fico meio intimidada de tocar em algo tão grande, assim em público: mas como não? De que mais dá pra falar num dia como hoje?
"A juíza Patrícia Acioli", na televisão e em tantas matérias, é mostrada como "durona". "Durona" é adjetivo curioso, que fala de uma qualidade sem mostrar que é qualidade. Que transforma a qualidade quase em um defeito. A Patrícia que eu conheci não se parecia com essa imagem: era aberta, era alegre, amava a vida e o que a vida lhe dava. E queria mais. Era generosa, gostava de juntar gente, de fazer festa, de rir.
Era, sim, séria, franca, direta. Comprometida. Corajosa, tanto. Sabia do perigo que estava correndo e nem por isso deixou de seguir o caminho que achava certo. De fazer o que estava ali para fazer. Não se deixou intimidar. Alguém que a gente só pode admirar e aplaudir.
E, à dor tão grande do assassinato de Patrícia, se juntou outra dor: a do assassinato de caráter que a mídia tentou fazer, nos primeiros dias. Insinuando. Falando de sua vida privada. Quase que dizendo que a culpa era dela. Como que matando Patrícia de novo. Nossa terra tão machista não perdoa mulher que enfrenta. Que encara. Que não se submete, que não baixa a cabeça. Tem que ser culpa dela. Só faltaram dizer que esse trabalho não era coisa de mulher. E, no fundo, é um pouco isso que se está dizendo quando se usa ao falar dela o feio adjetivo "durona". Em vez de séria. Em vez de corajosa. Em vez de comprometida. Em vez de íntegra. Porque isso tudo ela era.
E era tão grande a história que não conseguiram abafar, que não conseguiram esconder. Que afinal ficou provado que a morte de Patrícia foi por causa do seu trabalho. Porque ela fazia o que tinha que ser feito. E basta isso pra morrer quando se trabalha nessa área, no Rio de Janeiro. Ainda mais quando se é mulher.
Um beijo, Si, pra você, pra vocês todos que têm a tarefa de sobreviver à dor e continuar.
Viva Patrícia. Viva Patrícia, hoje e sempre.
Lindo texto desabafo Renata.Falou por mim, e por milhares de outras mulheres que sentiram-se atingida, com o desrespeito da mídia. Parrabéns!
ResponderExcluirImagino o quanto foi difícil escrever, mas que bom que conseguiu fazer esse registro-protesto-homenagem. Tu és dessas pessoas sensíveis, imprescindíveis nesse mundo tão duro. Beijo!
ResponderExcluirObrigadíssima pelo carinho, queridas. Beijo grande.
ResponderExcluirXará,
ResponderExcluirVc me fez chorar.
O que tentaram fazer com a Patrícia juiza, mulher, pessoa, foi abominável.
Realmente, tentaram matá-la várias vezes, mesmo depois do assassinato.
Obrigada por falar.
abominável é a palavra, Rê. Beijo.
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