E aí me deu vontade de ler um texto da Borboleta Luciana . E, por sorte, ela tinha acabado de postar esse, antigo, mas no ponto pra mim hoje. Que fala de uma certa sensação de ser antiga. E eu hoje dizia que sou "anti-moderna". Sou meio. Não gosto do moderno pelo moderno. Vejo o mundo indo e vindo. Não sou saudosista, mas não acho que pra frente é sempre melhor. Há melhor, há pior. Cíclico. Rodando. Mundo gira e a gente com ele. Pra melhor, pra pior. Porque a estrada não é reta e não vai do pior pro melhor. Nem do melhor pro pior: essas não são, simplesmente, as categorias adequadas. Não cabem aí. O mundo vai no seu ritmo. A gente tenta se ajustar. Ir com ele. Pegar no tranco. E consegue às vezes. Às vezes não.
O texto da Lu também fala de outra coisa que me toca tão de perto, tão lá no fundo: o eu-indo. Já escrevi uma vez: "minha casa é indo". Já mudei muitas vezes de casa, entrei num avião a primeira vez pra ser batizada, viajei sozinha com algo como cinco anos. Morrendo de medo. E de vontade. Medo e vontade que nunca mais me abandonaram. Que apertam o estômago quando estou indo. De alegria e susto. Do desconhecido. Do já conhecido que vou rever. Das saudades que vou matar. Das outras que vou deixar. Que delícia. Que medo. Minha família no Recife, e as viagens de carro cantando. Meus avós, minha tia em São Paulo. O exílio em Genebra, e todas as viagens que dali se seguiram (tantas também de carro, sempre cantando). Meus pais nômades que, depois, não conseguiram parar no canto e foram pra Brasília, pra Roma, pra Brasília de novo. E novas cidades a conhecer. E novas "casinhas de nós" a serem montadas. Novos restaurantes da esquina - menos em Brasília, que, como todo mundo sabe, não tem esquinas. Novos cafés. Novas caras, novos jeitos.
E me reconheço no jeito da Lu de viajar: sem preocupação com cumprir etapas. Sem precisar ver "o que tem que ser visto". Só estando: estando lá, absorvendo os sons, as cores, as caras, os jeitos. Como gato, gosto de construir cantos meus. Um lugar pra ir todo dia: um café, um boteco. Onde o garçom já me conheça e sorria à minha entrada: em uma semana viro "local" e me esparramo nisso. Sento e olho. Posso passar uma tarde, duas, até mais, numa viagem de uma semana, só olhando. Ouvindo as conversas, entendendo ou não. Aprendendo os jeitos. Andando muito a pé, de preferência. Fotos? Nem sempre. Nem tanto. Porque estar lá é o que importa. Nas palavras da Borboleta, com quem converso nesse post, " As experiências costumam ficar onde eu gosto que estejam: em mim". E em mim ficam e me transformam, de tal forma que um cheiro, um trecho de música podem me transportar de volta. Pra quem eu era naquele momento, naquela viagem. Tomando cerveja com Celina e Adalberto em Havana. Ouvindo Lysâneas falar no Natal ecumênico dos brasileiros exilados, em Les Haudères. Comendo peixe com Andrés e Ju em Carneiros. Sentada com Adriana na porta da casa de Baccaro em Olinda. Ou ainda aqui pertinho, discutindo política com Paula e Paulo em Saquarema. Com Pinheiro e Berenice no sítio de Guapi.
Porque viajar são também as gentes que a gente conhece. E que a gente leva. Que a gente encontra. Que a gente carrega, fora e dentro da gente.
...Dá licença, povo. Vou ali arrumar a mochila. Tô indo. Tô indo agora. Bora?
Eu estou indo. E adivinha: prum abraço! Seu.
ResponderExcluirEscrever no blog é uma contradição diária: não escrevo pra ninguém [tá, ás vezes, pra mim] mas que alegria quando alguém realmente me lê. Assim, desse jeito de virar pelo avesso as entrelinhas e achar-se e, nesse processo, me ver. Porque, no fim e tanto, não escrevo pra ser lida mas pra ser vista, acho.
Seu post me fez mais real. Eu existo porque você me achou. Obrigada. Gostei muito da prosa.
E eu, que nem sou tão assim mas sou às vezes, tô de novo com os olhos cheios de lágrimas só de ler seu comentário. E a alegria de lembrar que daqui a pouco você tá aqui "de mesmo"? Viva...! E é isso. Eu também escrevo pra mim. E adoro quando me acham. E adoro quando me acho em posts dos outros. como foi o caso desse seu. Tanto. Esse foi meu jeito de dizer obrigada. Mesmo.
ResponderExcluirUm dos posts mais queridos, sempre e sempre. Uma conversa que não se acaba mais nunca, sempre tanto carinho pra dizer, tanta parecença pra celebrar, tanta diferença pra aprender...Das experiências que ficam em mim: seu abraço.
ResponderExcluire há de ter. mais abraços. mais conversas. mais blogs. mais gargalhadas. e depois falam das redes.
Excluircara, as redes. me trouxeram você e tanta gente.
imagina se vou falar mal das redes? ;)