"Luz e Sombra" é o nome do livrinho maravilhoso da D. Emmy (Emma Costet de Mascheville), minha "avó astrológica", a mestra da mestra Claudia Lisboa. O livrinho tem como subtítulo "Elementos Básicos de Astrologia". O livro tem 70 páginas, mas dessas que devem ser lidas e relidas pra vida inteira. Sabedoria. Ensinamentos. Reflexões.
Tomei emprestado o nome do livro pra falar da luz e da sombra que somos nós, o tempo todo. O que se vê, o que não se vê. Escrevi um texto há tempos, sobre a persona-internet e a pessoa "mesmo", chamado icebergs gelatinosos. De como a gente já mostra tão pouquinho em geral, de como as redes possibilitam uma volta nisso aí, uma exibição aleatória de partes que até então ficavam submersas. De como isso possibilita novos encontros, novos encaixes (ui), novas aventuras.
Um livro que marcou minha adolescência - e que ninguém conhece, fora eu - foi "Glorinha Radioamadora". Era da coleção "Jovens do Mundo Todo", que se chamava assim mas da qual só conheço livros brasileiros. A autora, vejo aqui no tio gúgol, é Isa Silveira Leal. Glorinha e sua irmã Isabel são personagens que aparecem em outros livros dela. Foi ali, aliás, que vi a primeira referência ao monstro de olhos verdes que depois reencontraria tantas vezes em tia Agatha (confesso aqui que nunca li Shakespeare, só via tia Agatha e outros ingleses. Mas vi o Branagh fazendo Iago, tão sensacional). Eu não sabia que existia tal coisa como o radioamadorismo, e fiquei encantada. Poder entrar numa rede, comunicar-se com gente que não se conhece ao vivo.... mal sabia eu.
As redes sociais, essas, das quais se fala tão mal, pra mim foram esse espaço, mas muito mais: ao contrário da conversa via rádio, nas redes não é necessário ter interlocutor do outro lado. A abertura para conversa se faz via garrafas ao mar, para quem pescar. Contei já da minha descoberta do feicebuque, do meu encantamento. Dessa forma de conversar que pode ser defasada, que abarca antigos silêncios e gostos que você acreditava serem só seus. Sou essa pessoa obelixa, essa pessoa-árvore, de camadas, e tanta coisa ficava ali, guardada por não ter pra quem ser mostrado. Na sombra. Não aparecia no assunto, não tinha hora boa.... e por ficarem na sombra, às vezes se encolhiam, se atrofiavam, entristeciam, abandonadas. Pois bem. Com as redes, não precisa de hora nem de aparecer no assunto. É só jogar lá. Quem quiser que pesque.
Como esse texto aqui.
Como esse texto aqui.
Aí que vem a conversa do lado-luz, do lado-sombra: as redes, os blogs, a comunicação dazinternets abre espaço pra isso: iluminações inesperadas de lados-sombra. Exibição rebolativa de parte submersa do iceberg gelatinoso. Encontros e conexões que no "mundo lá fora" não se dariam: outro tempo, outra idade, outra geografia, outras histórias. Mas ali, vem a garrafa, a gente pesca, abre, lê o bilhetinho: manda outro de volta, porque era aquilo, porque fez tanto sentido, ou porque a gente nunca tinha pensado daquele jeito, mas até que...
E quanto mais a gente circula, mais acontece: gente que é amiga de amigos vem se chegar na nossa rede, vem balançar na rede com a gente, empurrar a rede, cantar cantigas de ninar. Vem dançar ciranda, vem andar na rua, vem mergulhar, vem olhar nos olhos, na rede, fora da rede, ali tem um boteco, um banco, uma beira de mar, um pedaço de qualquer lugar.....
eu gosto destas mensagens jogadas ao mar, até tenho um blog (fechado, por enquanto) chamado de garrafinhas de lu. como uma esperança. que alguém (me) encontre.
ResponderExcluirnão tem nada a ver com seu post, mas lembrei que quando eu era casada, meu ex tava implementando uma radiadora comunitária nas escolas da serra. Era legal paca, os adolescentes produzindo conteúdo, aprendendo a parte técnica do lance.
voltando pro post, eu acho lindo e quase hipnótico esse jeito e luz-sombra que você manifesta. sabe, não é pra todo mundo. só que fiquei pensando, no seu caso, não sei se são garrafinhas esses textos e conversas. nesse mar da internet, diria mais que você é uma rede de arrasto. é tão vasto e variado e gostoso que abarca um mundo e a gente vai gostando de se enroscar ali, em um dos nós. (u sei, o resto da metáfora não serve, vou aperfeiçoar)
hahaha se era quando vc era casada, era seu (então) atual. ele é seu atual ex, agora. é isso? mas acho que tem a ver sim, ué. com um dos fios do post.
ExcluirE adorei ser rede de arrasto. Achei lindão isso. Fiquei até cheia de si. :)
Beijos!
eu vou ser chata e reclamar de uns pneus que andei pescando. :-P (sorry)
ResponderExcluirÉ, tem os pneus, né? Mas é que falam tanto deles. Eu gosto sempre de falar de quanta coisa linda a internet me trouxe. Não é demais dizer que virou minha vida de cabeça pra baixo. Olha você aqui...
ExcluirAdorei, Renata! Nunca tinha pensado por esse ponto de vista!
ResponderExcluirQue legal, Marcela. Eu adoro isso também, quando alguém me faz olhar por um outro ângulo. Obrigada pela visita, e vida longa a nossa Central do Textão!
Excluirdepois de pescar uns pneus, pescamos um peixão, às vezes um peixinho... uns a gente descarta, outros se tornam valiosos. :)
ResponderExcluirIsso... :)
Excluirtão bonito isso, adoro o seu jeito de escrever.
ResponderExcluirPoxa, obrigada...! Volte sempre... beijo!
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