Política e Economia

Somos todos bombeiros

Tava lá na ALERJ. Na escadaria do Palácio Tiradentes. Eles tão lá. Há dias, mas agora com mais força. Depois que o governador os chamou de vândalos e mandou prender 439 dentre eles. Depois que o desgovernador mandou pra cima deles, que ocupavam sua casa após ter esgotado todas as anteriores e reiteradas tentativas de negociação, o BOPE com gás lacrimogêneo e bombas de pimenta. Depois da entrada violenta em que uma mulher perdeu o filho que esperava. 
Hoje de manhã, um passante comentou: "pelo menos na ditadura militar a gente sabia com que estava lidando. Agora é ditadura civil". 
Pois é.
Algo parecido tinha me ocorrido. Como é que uma reivindicação pacífica e organizada, de uma corporação tão essencial, que se arrisca para defender e salvar vidas, pode ser tratada com tanto desprezo e destempero? Como, quando sua reivindicação é de que seu salário líquido passe de R$950 para meros R$2.000? Dois mil? Pra se arriscar, pra enfrentar desastres e calamidades? É isso mesmo? E o desgovernador não conversa, não negocia, manda tropa pra cima e ainda chama os caras de vândalos? Quando os únicos tiros no quartel dos bombeiros foram dados pelos invasores do governador, como atestam as cápsulas encontradas?
Que democracia é essa em que reivindicação de salário é recebida como atentado à ordem?
Os bombeiros continuam lá. Acampados. Cada vez com mais adesões. O governador conseguiu o feito inusitado de unir contra ele de Flavio Bolsonaro, passando por Clarissa Garotinho, a Janira Rocha (que acompanha desde o início a mobilização e tem se destacado na articulação de soluções) e Marcelo Freixo. 
A proposta é tentar trancar a pauta da ALERJ até que os bombeiros presos sejam libertados. Aí é que se começa a negociar.
Adiante.

Hoje, somos todos bombeiros.

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A dor da gente não sai no jornal 

O Banco Central recuou. Agora, os bancos é que vão assumir o ônus de trocar as tais notas manchadas por dispositivos anti-furto. 
Ufa.
Mas não dá pra comemorar e relaxar: o Banco Central de fato editou uma medida em que dizia que, caso algum cidadão tirasse de sua própria conta alguma nota danificada pelo sistema anti-furto do banco, quem ia arcar com o ônus de trocar a nota era... o cidadão. Que veria seu dinheiro se esvair, para depois entrar com um B.O. (!!!!) caso a retirada ocorresse fora do horário comercial, e caso fosse no horário, teria que deixar a nota no banco, sem garantia de troca. 
Sim, camaradas, vocês leram bem. A seqüência dos acontecimentos é a que segue:

  1. Os bancos estão sendo roubados através dos caixas eletrônicos, danificados pelos ladrões;
  2. os bancos colocam um dispositivo para pintar as notas retiradas após explosão, como forma de reconhecer que foram roubadas;
  3. O BACEN, desconhecendo que dinheiro circula e não tem nome anotado em cima, toma duas providências: a) torna notas pintadas sem valor; b) deixa a cargo do cidadão desavisadamente cliente de bancos - porque, bem, é um pouco mais simples do que botar embaixo do colchão, embora seja bem mais caro - a tarefa de provar que não foi ele que roubou, e de trocar a nota. Se o Banco Central assim o entender.
Quando vi essa notícia, achei que não tinha entendido algo. Depois, li no jornal: era isso mesmo. O cidadão era penalizado por ter tido o azar de tirar de um caixa eletrônico uma nota pintada.
Muito lógico.


E a mídia?


Pra variar, deu a notícia inacreditável da forma asséptica, "neutra" de sempre. Como se não fosse nada de mais o BACEN decretar que a partir de agora você teria que provar que não é ladrão do seu próprio dinheiro, tirado de sua própria conta. Isso por conta de uma decisão administrativa da segurança dos bancos.


Ou seja.

Saudades do Stanislaw.


Mas como dizia o Chico: título acima.


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