Pra mim era e sempre foi Maninho: mas você escolheu esse nome. Então fica o seu.
E isso aqui é uma carta: você vai achar engraçado receber uma carta minha de onde você tá agora; mas eu escrevo. Já escrevi pra papai, pro Jayme, pra vovô (acho que a de vovô Lins foi a primeira). Um jeito de manter vocês com a gente: um jeito de acalmar a saudade. E você, que deve tar ocupado com o tudo de novo que tem que aprender por aí, receba quando der. Quando puder. Fica aqui, pra quem ficou e tem saudade. E é tanta gente.
Porque esse era, eu acho, seu maior talento: agregar gente. Gente alegre, músicos, poetas, pintores, todo mundo entrando e saindo da sua casa sem chave na porta. Todo mundo querendo tar, querendo participar, querendo conversar. E tinha lugar pra todo mundo, incrivelmente.
Até pra mim, adolescente em carne viva que eu era naquela época. Até pra mim, olha que maravilhoso.
Lembro de quando teve aquela cheia, e a gente tava na sua casa - Adrianne, eu... Marcelo tava? Adriana, certamente. Fora a família: você, Virgínia, Dinho, Paulinho, Henrique. E os outros. A gente ficou ali, presos e nem aí pra cheia. Ouvindo música (acho que a trilha daqueles dias era Chico, "Tanto amar", "Mar e Lua"), bebendo um pouco, conversando, conversando, conversando, conversando... conversando mais, sendo apresentados a novas músicas, novas imagens, novas idéias. Viajando nas histórias, na história. Tando juntos, se aquecendo naquela teia de gentes, de cores, de histórias.
O paraíso pra uma adolescente selvagem, cheia de sentimentos e com frio de gente no Rio de Janeiro (onde ainda não tinha feito seu ninho, onde tudo era diferente e estranho).
Você era médico, como seu pai, como seus irmãos. Mas acho que você era, sobretudo, um "medicine man". Um médico da alma. Um pajé, que sabe que corpo e alma são uma coisa só.
Depois, muito depois, quando a gente já tava afastados há tanto tempo, quando a doença de tristeza já tinha mostrado suas garras, eu soube que você tava pintando, e fiquei feliz. Era isso. O artista sempre foi você. Você fez um retrato de papai que tá na "casinha de nós" do Leme. E que alegra quando a gente lembra dele, de você, de vocês que devem tar a estas horas tomando umas biritas no boteco do céu, rindo, contando causos e relembrando aventuras passadas.
Enquanto isso, por aqui, a gente vai vivendo e vai sentindo falta de vocês. Falta, mas também presença. Na história, nas músicas, nos quadros. Na alegria de tar juntos que vocês tanto souberam ensinar prá gente.
Valeu, Mano. A gente se vê por aí.
Pajé. Mas fica assim mesmo.
ResponderExcluirbeleza renata é uma imagem real do tio mano sempre fazendo tudo para nos deixar melhor,tantas músicas associadas a ele por mil razões mas para mim as mais parecidas são: casa no campo e to sir with love.
ResponderExcluirAh, Rê, essa viagem contigo é sempre muito boa, por que ocê é do modo "tudo pode acontecer", "ninguém faz idéia de quem vem lá" na tua escrita. Transita tranquilamente nos vários níveis emocionais, como quem zapeia (ou papeia com a vovó)...
ResponderExcluirGlauco, é assim pra mim tb. Eu nunca sei bem o q vai acontecer... navego nas ondas da memória e sai pela ponta dos dedos. Quase sem passar pelo chamado "racional". Bjs.
ResponderExcluirQue lindo texto, lindas palavras!
ResponderExcluirEstarei lá... no lançamento do livro de aquarelas feitas pelo querido Mano Victor, idealizado por Juana Lemos de Menezes e pelo próprio Mano. Com coordenação Editorial de Abel Menezes e Djalma Agripino.
Quarta, 7 de Março de 2012. 18h.
Até 22:00..
MAISON BOMFIM, Rua do Bomfim, 115 -carmo. OLINDA.
E agora, recebi aqui o lindo livro de aquarelas, cheio de textos-saudade. Teria adorado estar no lançamento, celebração.
ResponderExcluirLendo só agora, um ano depois. Comovente. Saiba, meus olhos brilharam. Parabéns pelo texto e pela sensibilidade. :-)
ResponderExcluirPara mim, com sede também de vida, liberdade, amor, esse foi um mergulho inesquecível. Rê, a vida q vc reinventa é bonita demais!
ResponderExcluirFoi pra nós. Aquela idade, aquele mergulho. Beijos, amorita. Viva.
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