quarta-feira, 25 de maio de 2011

Mano Victor

Pra mim era e sempre foi Maninho: mas você escolheu esse nome. Então fica o seu.
E isso aqui é uma carta: você vai achar engraçado receber uma carta minha de onde você tá agora; mas eu escrevo. Já escrevi pra papai, pro Jayme, pra vovô (acho que a de vovô Lins foi a primeira). Um jeito de manter vocês com a gente: um jeito de acalmar a saudade. E você, que deve tar ocupado com o tudo de novo que tem que aprender por aí, receba quando der. Quando puder. Fica aqui, pra quem ficou e tem saudade. E é tanta gente.
Porque esse era, eu acho, seu maior talento: agregar gente. Gente alegre, músicos, poetas, pintores, todo mundo entrando e saindo da sua casa sem chave na porta. Todo mundo querendo tar, querendo participar, querendo conversar. E tinha lugar pra todo mundo, incrivelmente.
Até pra mim, adolescente em carne viva que eu era naquela época. Até pra mim, olha que maravilhoso.
Lembro de quando teve aquela cheia, e a gente tava na sua casa - Adrianne, eu... Marcelo tava? Adriana, certamente. Fora a família: você, Virgínia, Dinho, Paulinho, Henrique. E os outros. A gente ficou ali, presos e nem aí pra cheia. Ouvindo música (acho que a trilha daqueles dias era Chico, "Tanto amar", "Mar e Lua"), bebendo um pouco, conversando, conversando, conversando, conversando... conversando mais, sendo apresentados a novas músicas, novas imagens, novas idéias. Viajando nas histórias, na história. Tando juntos, se aquecendo naquela teia de gentes, de cores, de histórias.
O paraíso pra uma adolescente selvagem, cheia de sentimentos e com frio de gente no Rio de Janeiro (onde ainda não tinha feito seu ninho, onde tudo era diferente e estranho).
Você era médico, como seu pai, como seus irmãos. Mas acho que você era, sobretudo, um "medicine man". Um médico da alma. Um pajé, que sabe que corpo e alma são uma coisa só.
Depois, muito depois, quando a gente já tava afastados há tanto tempo, quando a doença de tristeza já tinha mostrado suas garras, eu soube que você tava pintando, e fiquei feliz. Era isso. O artista sempre foi você. Você fez um retrato de papai que tá na "casinha de nós" do Leme. E que alegra quando a gente lembra dele, de você, de vocês que devem tar a estas horas tomando umas biritas no boteco do céu, rindo, contando causos e relembrando aventuras passadas.
Enquanto isso, por aqui, a gente vai vivendo e vai sentindo falta de vocês. Falta, mas também presença. Na história, nas músicas, nos quadros. Na alegria de tar juntos que vocês tanto souberam ensinar prá gente.
Valeu, Mano. A gente se vê por aí.

9 comentários:

  1. beleza renata é uma imagem real do tio mano sempre fazendo tudo para nos deixar melhor,tantas músicas associadas a ele por mil razões mas para mim as mais parecidas são: casa no campo e to sir with love.

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  2. Ah, Rê, essa viagem contigo é sempre muito boa, por que ocê é do modo "tudo pode acontecer", "ninguém faz idéia de quem vem lá" na tua escrita. Transita tranquilamente nos vários níveis emocionais, como quem zapeia (ou papeia com a vovó)...

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  3. Glauco, é assim pra mim tb. Eu nunca sei bem o q vai acontecer... navego nas ondas da memória e sai pela ponta dos dedos. Quase sem passar pelo chamado "racional". Bjs.

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  4. Que lindo texto, lindas palavras!

    Estarei lá... no lançamento do livro de aquarelas feitas pelo querido Mano Victor, idealizado por Juana Lemos de Menezes e pelo próprio Mano. Com coordenação Editorial de Abel Menezes e Djalma Agripino.

    Quarta, 7 de Março de 2012. 18h.
    Até 22:00..
    MAISON BOMFIM, Rua do Bomfim, 115 -carmo. OLINDA.

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  5. E agora, recebi aqui o lindo livro de aquarelas, cheio de textos-saudade. Teria adorado estar no lançamento, celebração.

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  6. Lendo só agora, um ano depois. Comovente. Saiba, meus olhos brilharam. Parabéns pelo texto e pela sensibilidade. :-)

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  7. Para mim, com sede também de vida, liberdade, amor, esse foi um mergulho inesquecível. Rê, a vida q vc reinventa é bonita demais!

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    1. Foi pra nós. Aquela idade, aquele mergulho. Beijos, amorita. Viva.

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