domingo, 10 de julho de 2011

Cultura, normalidade, democratização da comunicação




Texto-tarefa sempre é um pouco mais difícil de escrever. Mas vamos lá. Tentando.


O título acima é uma síntese que se formou na minha cabeça nos idos de noventa e tal, no auditório da Faculdade Candido Mendes. Estava acontecendo um seminário do PT, de vários dias, e eu fui a praticamente todas as mesas. Aquela que interessa aqui tinha um título que me empolgava pouco, no qual aparecia em destaque a palavra "cultura". Mal sabia eu.

Quem falava na mesa - e eu ouvia pela primeira vez - era o Luis Dulci. E, mineiramente, pelas beiradas, foi introduzindo seu assunto. Que eu engoli, do qual me apropriei, e que desde então se tornou meu (ia dizer "meu também", mas não sei bem o que ele fez com a parte dele. Enfim.). O assunto era assim, mais ou menos: cultura é algo que se constrói junto com a noção de normalidade. Cultura é o que passa de uma geração pra outra, um jeito de fazer, um jeito de olhar que de tão entranhado parece que é "o" jeito. Por isso, quando a gente viaja, quando a gente lê, quando aprende uma língua nova, a gente começa a ampliar o olhar e a se dar conta de que o nosso jeito de ver não é "o" jeito, e sim "um" jeito. Nem melhor nem pior, apenas diferente, como certa escola de samba carioca. E isso muda a gente pra sempre. Porque estica e transforma a própria noção de "normal", que parecia a princípio tão óbvia. Essa ampliação é fundamental para dirimir preconceitos, pra ajudar a apreender o diferente, que nada mais é do que um habitante de outro portal de normalidade. Uma normalidade diversa da nossa.

E o que tem isso tudo a ver com a luta pela democratização da comunicação e dos meios de comunicação? Ora, nossa capacidade de entender e de apreender está, evidentemente, limitada pelas informações que chegam até nós. Nas ditaduras, parece evidente que as informações são restritas, limitadas, censuradas.

Vivemos hoje numa democracia capitalista. Democracia em que os meios de comunicação estão dominados por poucos. No Brasil, particularmente por poucos. Uma só empresa tem tv aberta, radio, jornal, tv a cabo. Tem vários programas difusores de notícias e de informações, em cada um desses espaços. De que informações? De que notícias? Quem decide? Eles lá. Eles definem. Eles levantam a bola ou cortam. E nós recebemos. No Rio de Janeiro, já houve um tempo em que pelo menos dois grandes jornais disputavam o tempo de leitura dos formadores de opinião. Parece pouco, mas agora só tem um. Que diferença. Para pior. Tantas vezes a gente lê uma notícia e pensa "cadê o contraponto?" Cadê o outro lado? O avesso? O lado B da notícia? Não há. Não aparece. Oculto, disfarçado, invisível. Sem espaço.

E o grave problema é que isso restringe o espaço de pensamento. O espaço de entendimento. A gente acaba se acostumando e pensando que ali, naquele veículo único em suas várias formas, é que está a verdade. Ou a verdade possível, panglossianamente. E quando isso acontece, a gente fica com mais dificuldade de olhar para o diferente: de entender que o diferente é a gente também, olhado de outro lado. A gente fica com menos boa vontade para deixar o outro, aquele que discorda, expressar sua opinião também. Porque democracia, à vera, inclui conflito. Permanente. A paz é o silêncio do medo. Na democracia, as calmarias são conquistadas e impermantentes. Viva. Faz parte. Por mais que seja incômodo e que seja mais fácil quando está todo mundo sentadinho em silêncio. Democracia é meio bagunçado.

Como esse texto começou com uma evocação ao PT, fecho com outra: a imagem de Lula dando entrevista ao Casal 20 da Rede Globo, no dia da sua primeira vitória, enquanto o povo o esperava para a comemoração na praça. E eu chorei vendo aquilo. Não de alegria, de dor de pensar em toda a esperança que esse povo tava depositando naquele, um dos seus, que o deixava esperando para prestar homenagem à Rede Globo.

Queria ter visto um pouco mais errado. Fazer o que. A gente é o que é. Mas sempre é tempo: se não deu ali, vamos brigar por isso agora. A briga é boa. Bora?



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