domingo, 19 de agosto de 2012
Amores e livros policiais
Sou dessas criaturas que amam histórias de amor e livros policiais. Tudo junto e misturado. Aí, outro dia em que tava num "buraco" de espera, fiquei viajando sobre isso: o que é necessário para escrever uma história de amor. Pensei umas coisas, enquanto esperava o João na fisioterapia: meio desordenadas, impressionistas. Certamente nada que de fato "valha a pena". Só uma maneira de passar o tempo. Mas é assim, né? O blog é meu e eu escrevo o que eu quiser? Então lá vai.
Como num livro policial, os personagens são fundamentais - ao contrário, por exemplo, das histórias de espionagem, onde a trama e a ação é que são relevantes. Por isso, aliás, é que não gosto de livros de espionagem: eu gosto é de gente, e ali os personagens muitas vezes não passam de esboços. Quanta diferença do Nero Wolfe, do Lord Peter Wimsey, do Dalgliesh da P.D. James, do inspetor Rebus do Ian Rankin.
Um obstáculo é necessário para estruturar a história: e os exemplos clássicos que me ocorrem são Romeu e Julieta, Tristão e Isolda. Nessas duas, o obstáculo é externo; eu, de minha parte, tenho certa preferência pelas histórias de amor em que o obstáculo que impede a realização plena do sentimento amoroso vem de dentro de um ou dos dois personagens. Quando o impulso amoroso é bloqueado pela própria moral, pelos próprios limites dos envolvidos. Como acontece, por exemplo, com Paulo, em Lucíola, de José de Alencar (que eu li primeiro do que a Dama das Camélias, e por isso é minha referência). Ou no caso da paixão do português Jerônimo por Rita Baiana, no Cortiço de Aluísio Azevedo. O amor contra a vontade de Eugênio por Olívia em Olhai os Lírios do Campo, de Érico Veríssimo.
Desses é que gosto, e aí é que encontro a semelhança livros de amor/ livros policiais. Eros e Tanatos, sensualidade e pulsão de morte, domínios de Touro e Escorpião. Nesses casos, a paixão contra os limites internos não deixa de ser uma forma de assassinato: assassinato de moral. De bons costumes. De idéias feitas. Rompimento com aquilo em que se foi levado a acreditar e a aceitar como necessário - pela família, pela educação, pelo meio em que se vive. Luta interna, disputa de espaço entre o eu-luz e o eu-sombra. Culpa, dores, mortificações. Mortes. Mortes de velhos eus.
Sei lá. Achei que tinha a ver.
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O ano da graça de 2024 e só agora eu conheci este texto? Chocada. Amei esta abordagem. Eu sempre penso que um bom romance policial é menos sobre crime e mais sobre gente e suas paixões, mas aqui você cavucou de uma maneira TÃO legal, porque meio inverteu, um bom romance também pode ser um excelente livro policial! Cê tá certa! É preciso matar estes limites internos e, claro, somos a vítima, o autor e tb os investigadores, porque é precisa re-conhecer quem nos tornamos ao matar parte de nós.
ResponderExcluirhahaha sempre é tempo pra um bom comentário como este! :-) dá pra gente ir longe, nessa conversa. beijo, adorei!
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