domingo, 18 de setembro de 2011

30 livros em um mês - dia 2

E o dia 2 é sobre um "livro de que não gosto". Ah, isso tem muitos. Preciso pensar mais uma vez, e olhar a série inteira pra ver se não estou gastando cartucho na hora errada...não. Acho que vai ele mesmo.
Ele mesmo: um livro que tanta gente que eu amo ama. E que já tava na minha lista na época do finado "Perfil do Consumidor" do JB (onde o Bussunda respondeu a "qual o lugar mais estranho em que você já fez amor?" com um certeiro "São Paulo"), para a pergunta "que livro você deixaria numa ilha deserta?" . Já era ele.

Tô falando, claro, de "Cem anos de solidão". Que me causou tanto horror que eu nem acabei, e por causa do qual demorei séééculos a ler outro Garcia Marquez, apesar dos incentivos de K. Os outros todos eu gosto, devo dizer. E esse, nunca mais. De vez em  quando penso "vou lá de novo, quem sabe"... e aí me embrulha o estômago e antes de começar desisto. Não quero sentir aquilo de novo.

...a explicação é - evidentemente - totalmente subjetiva. Eu sou uma pessoa com um pé no mundo dos sonhos. O que quer dizer também um pé no mundo dos pesadelos. Nunca tive coragem de ousar drogas que afinassem o fio já tênue - e precioso - da minha conexão com o real: tinha medo de ir e não voltar. A mesma sensação tenho com certos filmes ditos "oníricos" (argh): vou embora do cinema, desligo a tv, não quero. Pesadelos: basta os meus.

E assim é com o Cel. Aurelio Buendia, que virou árvore, com Remedios de quem eu não gosto nem do nome, com a cidade inteira de Macondo cuja única qualidade na minha vida foi ter dado nome um dia ao simpático restaurante de Miguel Paiva e sócios, na Conde de Irajá: não quero saber deles. "Não sei, não quero saber, tenho raiva de quem sabe".

Tenho a vantagem sobre um monte de gente de ter sido acometida de indigestão de livros quase ao mesmo tempo em que aprendi a falar: não preciso prestar contas a ninguém de ter lido tal ou qual coisa. A outra vantagem é a de ter tido um avô de origem ferrada e totalmente autodidata, um avô que me lia Neruda em voz alta mas que me deixava comprar as fotonovelas que em casa eram proibidas. Que me ensinou Charlie Chan, que gostava dos de capa-e-espada franceses (Fanfan La Tulipe, O Corcunda). Então nem ligo se alguém diz que é "imprescindível", "essencial", ou que eu não entendi nada de América Latina se não tiver lido e digerido isso. Não li, não digeri, e provavelmente não vou. Passar bem.

Já contei em outro canto que um dos livros que mais amo no mundo é o do mesmo Garcia Marquez sobre a viagem clandestina do cineasta Miguel Littin ao Chile. Pra vocês verem. E nem é um problema estrito com o chamado "realismo fantástico": adoro o Dino Buzatti, por exemplo. Ele não me dá medo, só me diverte. H.G.Wells também. Ou seja. Não sei explicar. É físico. É na alma. Não consigo. "Quem quiser gostar de mim"... já fica sabendo.

Cem Anos de Solidão”: como usar um livro de 50 anos na sua aula?




10 comentários:

  1. Uma das coisas gostosas que a idade trouxe foi levar embora o tal "como você pode não gostar de...". Não gostando, ora. O que me interessa, sempre, é o como a gente gosta, não tanto do quê.

    A despropósito do tema, que família jóia essa tua. Imprescindível e essencial é saber curtir lembranças assim, de avós meio permissivos e estantes "multilingues".

    PS. Estou com um Buzatti olhando pra mim, meio reclamão, porque foi ontem preterido pela Patricia Highsmith

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  2. Pois é. Exatamente isso. E o que é engraçado é que, a partir do momento em que a gente se liberta e deixa de ter vergonha de dizer, ninguém recrimina mais e vira "estilo". Rs. Até parece. Meu estilo é isso aí mesmo... beijos, querida!
    Tem um Buzatti de contos que eu adoro - acho que se chama "O sonho da escada". (e acho que li em francês: "Le rêve de l'escalier").

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  3. Buenas, eu adoro Cem Anos de Solidão. Mas o que mais gosto desse desafio é a gente poder se libertar dessa coisa que a Lu falou, do "como podes não gostar disso ou daquilo?". Respeito é pra quem tem, né?
    Beijo, Renata!
    Adorei o post.
    :)

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  4. Quanto a mim, só pude amar um livro cuja história encaminha-se diretamente para o ventre das formigas!
    Poderia ser até meu livro rpeferido com animais...
    Abraços, Pádua

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  5. Hahahahaha!! E eis que, depois do comentário que acabei de deixar no post anterior... Cem Anos é o meu favorito ever!

    Não esquento com nada, entendo que não gostem, entendo que amem, uai, seres humanos, gente. Amo tanto e, ainda assim, nem ligo que você não goste.

    :-)

    Esse meme é muito divertido.

    Bj
    Rita

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  6. Pádua, comentário muito pertinente. E que me faz pensar que, talvez, hoje... com essa idade...mas não sei. Não sei se tenho coragem,juro. Esse universo me assusta. E é como disse: nem sei explicar direito.

    Rita, a Luciana disse o que eu acho sobre esse meme: mais do que concordar ou discordar dos gostos, o divertido e instigante é ler o porque cada um gosta ou não gosta... não é? Beijos!

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  7. Gostei muito de "Cem anos de Solidão" mas entendo o seu desamor. Talvez a explicação para a sua "Náusea" venha mesmo genética , de si mesma. Eu li o livro como se estivesse a encontrar num pesadelo alguns bisavós que teriam muito de Coronéis. Tenho fantasmas similares no meu sangue.

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  8. Eu amo o Gabo, totalmente! E Cem anos de solidão também amo demais, foi, aliás, o primeiro livro que li dele. Mas sempre que alguém me pergunta qual livro do Gabriel García Marquéz sugeriria, sempre digo... Do amor e outros demônios ou crônica de uma morte anunciada. São menos extensos e um bom começo pra se acostumar com o estilo dele.
    Adorei teu post Renata, porque concordo totalmente contigo e com a Lu, a gente tem direito de gostar e desgostar do que quiser simplesmente porque não gostou.
    Comigo acontece com livros, filmes e músicas, sei lá, às vezes não cai bem.
    Beijo

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    1. Valeu, Léli! Gosto de falar dessa só porque tenho certeza de que outras pessoas não gostam, mas "têm vergonha" pelo fato de ser um livro tão incensado. beijo!

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  9. "Cem anos" não faz muito a minha cabeça. Mas "Do amor" eu amo de paixão. Com livros, como com gente, tem aquela coisa de pele, de química.

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