E hoje é "o primeiro livro que lhe fez chorar". Hoje o Rio tá um esplendor, um dia azul e luminoso, da janela vejo o Cristo e revejo um dia provavelmente cinza da minha infância, eu jogada na cama dos meus pais no 4 da Rue Saint-Laurent, soluçando até não mais poder.
O livro? A versão que li se chamava "Mon bel oranger". Peguei na biblioteca da escola.
Mas o título original era "Meu pé de laranja lima" - José Mauro de Vasconcelos. Eu tinha acabado o livro, e acaba triste. Acho que foi o primeiro livro que li que acaba triste.
(pausa para dizer que aconteceu a mesma coisa com "Le Petit Prince" - que talvez seja o primeiro primeiro -, e boto o nome em francês porque não reconheço a tradução de D. Marcos Barbosa como válida. Sinto. Apesar dos prêmios. Não mantêm o registro semântico coloquial - tradução ruim.)
Voltando... não lembro do livro: lembro da atmosfera. Lembro do pé de laranja lima, que o menino se chamava Zezé (acho), que a irmã se chamava Gogóia (tenho certeza), que ele gostava de Tom Mix - que eu conhecia do Monteiro Lobato... que ele tinha uma vida não muito boa, e que o pé de laranja lima era onde ele sonhava e Tom Mix lhe fazia companhia nos sonhos. Nisso eu me reconhecia: minha vida era "boa" (o que quer que isso queira dizer), mas eu sofria com dores de crescimento e de estranhamento, e me refugiava no mundo dos sonhos como se não houvesse amanhã. Ou como se houvesse.
E por que tanto choro? Não tenho idéia. Não lembro como o livro acaba - e isso é pouco característico da minha elefântica memória. Lembro, só, da crise de choro fenomenal, que se repetiu quando li a continuação ("Rosinha, minha canoa", que também li em francês mas não lembro o nome). Eu sempre gostei de chorar. Gosto até hoje: descansa, acalma, ajuda a equilibrar. Tenho pena de quem não chora (ao contrário do Gil em Chororô). Quem não chora fica seco, fica árido, tem uma dor que dói mais, parece. A gente é fraca e cai no buraco, o buraco é fundo, acabou-se o mundo. Mas depois que acaba a gente volta, surfando no mar de lágrimas (Alice disse). Volta pra cima. Levanta, sacode a poeira. Não adianta negar. Todos viram. Ali onde eu chorei, qualquer um chorava.
E acaba assim: choraí, galera. Depois melhora.
Eu choro. Sou uma chorona assumida e feliz (ouiés, contradição é o nosso esporte, diria um jornalista da ESPN). Li A Menina que Roubava Livros assoando o nariz a cada meia página depois da página 10.
ResponderExcluirNão li Meu Pé de laranja Lima na infância. Na minha, quero dizer. Li na do meu filho e foi coisa esquisita de se ver. Ele tinha menos de 3 anos, eu lia pra ele antes de dormir e caí no choro e ele assustado: mamãe, que foi?
Pois é.
Tem um livro de criança que eu amo, mas que me faz chorar sempre - quer dizer, eu dou uma segurada porque já li muitas vezes em voz alta. É "o menino maluquinho", do Ziraldo. E choro - quase - na parte em que os pais se separam. Me separei do pai do meu filho mais velho quando ele tinha dois anos: e acho que foi isso mesmo. Mas nessa hora de ler bate uma dor pela dor dele, que era tão pequenino e já tinha que lidar com as perdas do mundo.
ResponderExcluirRe-na-ta! Putz. Putz. Putz. me separei quando o Samuel tinha um ano e sete meses. Sei que foi das mais inteligentes decisões que tomei. Sei, também, que isso sempre lateja um tiquinho.
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