domingo, 14 de outubro de 2012

Palavras forasteiras



Gosto de "forasteira". Tá na minha descrição de perfil. Forasteira não quer dizer estrangeira. E me lembra John Wayne, saloons, portas curtas e sem trinco. Forasteiro é meu olhar e sempre foi, acho. Será arte?
Tem o Recife. Depois, Genebra, que moldou muita coisa.
E "A Volta", no comecinho da adolescência. Sobre isso é o post. Sobre certas palavras.

Cartório é a primeira. Não havia jeito de eu entender: como assim? Privado? Mas ali você tira documentos? E paga? E ainda é hereditário? Não é possível. Vocês devem tar esquecendo de me explicar alguma coisa. Documento não é exigência do Estado? Como é que não é o Estado que emite? Peraí. Tá errado. Não entendi. Explica de novo.

Carne "de segunda". Outra. Como assim de segunda? Eu gosto mais. Nunca gostei de filé. Mas a que se refere o conceito? Não é tudo parte do boi? Quem definiu o que era "de primeira" e "de segunda"? Um termo que diz tanto. Como sua não-existência em francês também diz (e essa, devo dizer, me dá certo problema até hoje. Tenho que "traduzir" internamente. E não uso.)

CDF. Nessa época aí, em que eu tava forasteiramente aprendendo e tentando me entender, não se dizia ainda "nerd". Se dizia CDF. E eu não conseguia conectar com nada. Eu sempre tirei boas notas na escola. Em Genebra tinha até aquela coisa de prêmios: na cerimônia de fim de ano ("les promotions"), eu sempre ganhava prêmio - um voucher para livro, que me deu um de que gostei muito, sobre o Robin Hood histórico - é, desde sempre eu... - , mas que muitas vezes a gente perdia (Marcelo também ganhava) porque esquecia que tinha prazo. Ou ia no finalzinho e pegava a xepa. Enfim. Voltando... em Genebra, portanto, não havia o termo CDF. Nem o conceito que vem com o termo. Eu era só uma pessoa que tinha a sorte de não precisar estudar muito porque tirava boas notas. Porque lia muito. Porque era atenta e tinha boa memória.
Aí vim pro Rio e virei - fui tachada de - "CDF". E me indignei internamente: ah, não. CDF não. Eu não estudo! Como é que podem me chamar disso? Adrianne é minha testemunha, muitas vezes eu não tinha nem caderno: anotava em papéis soltos. Isso é ser CDF? Não pode ser pelo resultado, né? Ah, vocês tacham pelo resultado? Pois bem.
O resultado - o meu resultado - foi que, no então 1° ano do 2° grau (eu cheguei na 7a: o 1° era meu terceiro ano no São Viça), fiquei em recuperação: Química. Desvirginada, no ano seguinte fiquei logo em três: Química, Física e Biologia. E só não fiquei em quatro porque o Marcelo me passou - ele que sempre foi sensível e atento, e percebeu exatamente o que se passava na minha atormentada alma adolescente. Fiquei em três, feliz: CDF é  a mãe!

Eu e a testemunha Dri, no pátio do São Viça


7 comentários:

  1. Um post que tem "Wayne" na segunda linha... é óbvio que vou curtir. Se, além disso, for sobre linguagem, interpretação e subjetividade, dá pra passar o domingo todo a reler. Eu nunca fui cdf (acho que na minha escola a gente não implicava muito, não) mas sempre gostei de chupar o osso - carne de segunda win!

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  2. Hahaha vou adotar "sempre gostei de chupar osso". Moela, trabalhamos. Tutano, miolo... adoro.
    Costela? Também.
    Acho filé meio sem graça. :)

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  3. Lindo texto. Me deu vontade de passar receita q aprendi recentemente para fazer costela na panela, fácil, delicioso. Tb sou da turma da carne de segunda kkkkkkkkkkkkk

    Vai lá receita: 8 linguiças do tipo p churrasco, 1,5 kg de costela de boi, 4 cebolas grandes.

    Numa panela de pressão, coloque primeiro as linguiças inteiras. Apenas dê vários furos nelas com um garfo. Acima das linguiças, coloque metade da costela. Cubra com cebolas cortadas grosseiramente (eu não disse q não dá trabalho). Repita: linguiças, costela, cebola. Tampe a panela de pressão e deixe no fogo alto por 30 minutos.

    Abra com cuidado (tirar o vapor antes, cê sabe) e veja se precisa de algum tempero. A ideia é que o tempero das linguiças vai passar para a carne. Mas as vezes precisa de um ajuste no sal ou na pimenta...

    A essa altura você vai ver que a panela tá com um caldo incrível, feito apenas do choro da cebola e das carnes...hummmmm.

    Tampe a panela novamente e deixe mais 40 minutos, fogo alto.

    É ótimo para petiscar tomando cerveja gelada.

    Dá p fazer com músculo ou outras carnes mais duras. Mas eu prefiro com costela porque depois dá p chupar os ossos kkkkkkkkkkkkkk

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  4. CDF me hizo recordar CPF en Nicaragua. Alguien me explicó: cuerpo de protección física(F no estoy seguro). Alguien que vigila los carros estacionados en la vera de la calle. También, alguien que vigila las casas, oficinas, otros. Otra acepción: CPF cuídelo por favor (mismos usos). Cosas del idioma, que llaman. Bonito tu escrito, Renata. Abrazo, @rgrijalba

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  5. Eu tava lá! Acompanhando as folhas soltas e acompanhando o desvirginar das recuperações. Já eu, me esforçava pras notas serem boas. Cadernos sempre os tive. Muitos. Mas certas coisas não entravam na caixa..

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    1. hahaha tudo mudou hj, né, profa. e talvez daí venha sua generosidade com os alunos. beijo!

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