quinta-feira, 2 de junho de 2016

Aos sete anos, eu ganhei uma vida nova


Esse é pra complementar o outro. Porque ficou parecendo. Porque a vida é chiaroscuro. É um lado e outro. É dor e delícia. E assim foi.
Perdi tudo, ganhei tudo. 


Renata até os sete: carioca, pernambucana, férias lá, vida cá, escola, piscina sempre que dava, a galera do prédio, Ana Paula minha melhor amiga; Recife, medir os cabelos com Elizabeth pra ver o de quem tava maior, ser a contramestra em pastoril dos primos, inventar histórias e peças, a casa do meu avô e todas as suas maravilhas, o quintal que a gente explorava, minha caneca de pastora junto com todas as canecas dos primos, que me dava a sensação de pertencimento...

Renata depois dos sete: o aprendizado das estações - chegamos na primavera e escurecia depois das oito, fomos pra colônia de férias no verão com os primos "franceses" Clarissa e Gui, começamos a escola no outono - "la rentrée", se chamava. Uma escola antiga, pesada, fria, com um pátio enorme, que tinha uma parte coberta. Uma professora antiga, Mme. Berger, que aos meus olhos de brasileirinha parecia muito severa (mas nem era tanto). Jean-Claude, o menino do lado do qual ela me botou, pra que ele me ajudasse no começo. Nosso apê da XXXI décembre, do qual dava pra ver o jet d'eau no fim da rua. Patins. O lago. Minha sala com o nome das montanhas em volta - La Dôle, le Mont Blanc, la Jungfrau e não lembro o último - indicando os pontos cardeais. 

Uma saudade funda, tão funda. Da vida, dos primos, do Recife, do Rio. Mas tanta coisa pra ver todo dia. A Vieille Ville e a biblioteca: paraíso. Aquela loja de brinquedos de madeira, com um Pinóquio na vitrine. Os Jouets Weber, andares e andares só de brinquedos: olha que maravilha. Os chocolates, o relógio de flores. Os brasileiros que já tavam lá: Claudius e Jo (e Claudia e Flávio, claro) no apê da frente, Paulo Freire e Elza, com os filhos mais novos - Joaquim foi meu primeiro professor de violão clássico. Como sofreu o pobre. 

A Escalade no dia 12 de dezembro, lembrando a invasão de Genebra pelos savoyards: "Ainsi périssent les ennemis de la république!". E os caldeirões de chocolate com legumes de marzipan, pra lembrar a Mère Royaume que despejou sopa quente na cabeça de dois dos invasores. Os parques: o Des Eaux-Vives e o De La Grange, um do lado do outro, que minha mãe chamava (claro) de Jardim Botânico e Parque Lage. O Álvaro, o colega brasileiro, que virou tão amigo.

A neve. O Natal na neve. As músicas tradicionais. As férias de neve, no período de Natal e Ano Novo. Na montanha. Chamrousse, nesse primeiro ano. Esqui, pela primeira vez. Cinema na cidadezinha, waffles (gaufres), piscina aquecida.

Era só pra dizer. Tem aquilo, mas também tem isso.
Não dá pra não lembrar. É tudo junto. Foi duro, foi precioso.
Como quase tudo.




O primeiro outono

4 comentários:

  1. aprender a esquiar na infância deve ter sido uma delícia. como, aliás, esse texto ;)

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  2. viajei com seu post, para esse natal com neve. minha menina, de quase cinco, anda doida para conhecer a neve <3

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