E chegamos ao livro de ficção científica.
Well (s).
Esse tá longe de ser meu tema predileto. Pra dizer o mínimo.
Não gosto de falar de bichos, mas acho que gosto menos ainda de falar de tecnologia. Tecnologia: pra usar, não pra falar a respeito. Pelo menos no meu mundo.
Mas, bem, livros de ficção científica não são necessariamente sobre tecnologia, não é. Tão aí o Orwell, o próprio H.G.Wells, o Philip K. Dick, o Aldous Huxley e tantos outros que não me deixam mentir. Muitas vezes, livros de ficção científica são sobre gente. E disso eu gosto de falar. Embora não sob esse enfoque: mas aprendi muito lendo os citados acima.
O livro que eu queria comentar aqui, no entanto, é de outro autor - é o "Nove amanhãs" do Asimov. Um livro que uma pessoa querida me recomendou: eu nunca o teria tirado da estante por conta própria. Mas ficou. "Nove amanhãs" se divide em nove episódios independentes, que falam de futuros cada vez mais distantes. E eu queria comentar um deles em particular: e como, nas minhas regras para este jogo, eu não consulto os livros - a estante é a da memória, não a da parede -, nem sei qual deles é. E este eu nunca mais li, nem era meu; nunca mais encontrei com ele. O que quer dizer que as imprecisões da história são esperadas. Não importa: vamos a ela e ao que dela em mim ficou.
A história é a seguinte: um jovem acorda, um dia, num beliche em lugar desconhecido. Acorda e lembra vagamente, talvez, de ter sido levado pra lá. É uma fazenda, um lugar isolado, onde há outros iguais a ele. No começo acha tudo estranho, e tenta imaginar o motivo daquilo: quem sabe, por ser rebelde, por não se deixar enquadrar tão facilmente, teria sido punido, e ali seja um tipo de colônia correcional. Um lugar para gente que não está adaptada, que precisa ser domada. Essa sensação fica mais forte ainda quando percebe que é obrigado a cumprir uma rotina de estudos, e que ali não há, como seria de se esperar, os computadores que informam tudo e ajudam a organizar a vida cotidiana: ali, o método de aprendizagem é aquele antigo, de que só tinha ouvido falar - usando livros, imaginem. Livros, aqueles objetos que ele acreditava estarem extintos por obsolescência: pra que alguém precisaria de livros, se os computadores já continham em si todas as respostas a todas as perguntas?
A história segue assim, meio em ritmo de suspense, até que, bem lá no final, seu interlocutor principal esclarece o mistério: não, aquilo não é uma punição. Ao contrário, é uma mostra de reconhecimento da sua inteligência, da sua originalidade. Da sua capacidade de criar caminhos próprios, fora dos previamente traçados. E para que é que eles estão ali, pergunta o rapaz. E a resposta: "você já pensou que alguém tem que alimentar os computadores?"....
Quando li esta história, há tanto tanto tempo, a gente nem imaginava os computadores espalhados no mundo como estão hoje. A gente nem sabia que eu estaria escrevendo num computador, e menos ainda que quando eu acabasse de escrever daria um clique e... pronto.
Porque teve os computadores pessoais, é certo, e mudaram muitas coisas; mas depois teve a net. E a vida nunca mais foi igual. Na época em que o Asimov escreveu, nada disso existia, nem no mais maluco sonho de alguém. Então os computadores dessa história eram máquinas de armazenar dados: não eram usados para comunicação. Sobretudo não para a comunicação em rede: o que ainda é algo diverso. E isso me lembra uma atração da Disney (o Felipe tá lá, é por isso que esse tema tá recorrente): "Futuros que não aconteceram"- Brasília também me lembra isso, aliás.
Mas o ponto que me toca aqui é a afirmação de Asimov, esta sim atualíssima e cada vez mais, da importância do "fator humano". Da importância do homem por trás da máquina. Não importam os computadores, não importa a rede. Importam os homens que constroem e destroem a tecnologia. O saber dos computadores não é dos computadores: é das pessoas. Que inventam, criam, traçam caminhos, desviam-se, movidas por paixões, por interesses, criando novos caminhos, novos rumos, novos futuros. A tecnologia não é sozinha. A tecnologia vem depois.
Isso o Asimov sabia, e eu nunca mais esqueci.
Só fui ler Marx bem depois.
Mas quem sabe teve a ver.
Só uma coisa: você acabou de aumentar minha lista de necessidades básicas.
ResponderExcluirFoi? Não era intenção, juro... do que você ficou precisando depois de ler isso? Do livro? Ou de mais livros? =) Ou do Capital?
ResponderExcluirO capital eu já li (mal e porcamente, mas já). Deste livro do Asimov. Na minha mão, no meu olho.
ResponderExcluireu li em português. se é que ajuda. :)
Excluir