quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ela é a Princesa da Ervilha

A história da princesa da ervilha (de H.C. Andersen) é uma dessas que me pegou pela incompreensão. E pelo absurdo. Eu não entendia direito aquilo, a moça chegando molhada no castelo alheio e dizendo que era uma princesa, a pilha de colchões e de cobertores em cima da qual dormiu - um teste para saber se ela era realmente uma princesa, como dizia - , o dia seguinte com o ombro roxo e a constatação: se tinha sentido a ervilha com aquilo tudo por cima, não havia dúvidas, era mesmo uma princesa. Minha taurinidade criança achava tudo estranho, embora engraçado. Claro que ela não podia ter sentido a ervilha com uma pilha de coisas daquele tamanho. Ora. E como era isso mesmo de pele de princesa? 

Depois eu comecei a achar essa história errada. Elitista. O que é isso, meu senhor, o sr. está mesmo dizendo que a pele das princesas é tão fina, tão sensível, que ela teria sentido a ervilha embaixo daquela montanha de colchões e colchas? Que elitismo. Que vergonha. E eeeeu/ gostava tanto de vocêêê..... 

Por fim é que me dei conta: era ironia. Claro. Óbvio. Ululante. Mané-eu. Como não tinha me dado conta. O plebeu Andersen fazendo chacota das classes dominantes, como tantas vezes. E eu tinha caído. Como tanta gente, imagino. Mas a vantagem da minha cabeça teimosa é continuar minhocando: às vezes dá certo e aparecem novas formas de ver. Fiquei feliz, porque afinal sempre tinha gostado daquela história. Curtinha e engraçada. Podia gostar sem culpa: Andersen continuava mandando bem.

Mas isso tudo é pra falar dela. Ela, a princesa. Ela nem sabe, e nem eu sabia até ontem, quando essa imagem me veio. Mas é ela mesma. Doce e delicada. Gentil e cuidadosa. Atenta aos outros. Generosa. E nada disso impede que tenha senso de humor: é também uma das pessoas mais engraçadas que conheço. Só que a sensibilidade é essa, à flor da pele, à flor da alma. Mesmo com todas as peles, as colchas, os colchões por cima, ela sente a ervilha. Ela se magoa. Se fecha em concha. Em copas. Em silêncios. Em cílios.

Não dirá, é claro: não ficaria nem bem. O que faz com que você, viajante desavisado, é que tenha que perceber. Olha a responsa. Olha a dificuldade. Pra mim, elefanta, obelixa, desajeitada e desastrada, dificuldade ainda maior: quando vejo já falei, quando me dou conta já foi, e aí já era. Babau.

Por isso é que me alegro tanto dela me considerar amiga. De poder estar em sua companhia por aqui ou por lá, ouvir suas histórias de quando era atriz e trabalhou no Hair, dar palpite nesse ou naquele texto, rir junto até ficar sem fôlego. Às vezes cá e lá. Que tanto faz. Não entendo muito, mas agradeço de verdade. Uma alegria de todo dia ser amiga da Princesa. Uma alegria, um presente da vida. Não sei o que fiz pra merecer, mas agradeço.

(Sorrisos. De leve.)




14 comentários:

  1. Meu Deus, eu nem sei o que dizer, Renata, eu chorei. <3
    Eu nem sei. <3

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    1. Ô, flor. É só uma devolução pequenininha de tanta coisa boa que conhecer você me traz.
      Um beijo bem grandão. E obrigada de novo, por tudo.

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    2. Chorei também, pronto. É bem isso, você captou tudo.

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  2. Eu queria comentar alguma coisa amorosa e inteligente pra combinar com vocês duas. Não soube. Mas deixo minha admiração e afeto.

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  3. a elefanta (pq aliá é mesmo só pegadinha de prova de concurso) fazendo brotar a ervilha.
    por enquanto é um daqueles comentários enigmáticos que parece post da Luciana, mas vai fazer luz.

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  4. Né? Acho tudo isso aí também. Doce doce doce. E linda demais. <3

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  5. ah, que lindezinha... gosto tanto dela, queria vê-la mais vezes, dar risadas e saber das novas, mas a gente mora longe... o bom é que a gente anda se falando pelo chat do FB e é tudo de bom. amo a fal. e vc tambem, que nem conheço pessoalmente, mas pressinto que o encontro vai ser bom demais... <3

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  6. E tem como não gostar da Fal?! Não a conheço pessoalmente, somos amigas no FB, mas cada vez que a leio meu dia fica mais mágico. Cheguei no seu blog através da Central do Textão e quero acompanhá-lo pois gostei bastante. Um beijo.

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    1. Que ótimo. A CT só tá trazendo gente boa. Viva ela.
      E não tem como não gostar da Fal. :)
      Beijo!

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  7. Fal pega. É doença boa. Coceira de bicho de pé, picolé do verão , chá quente do inverno. Lindo, Renata.

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